sentir sempre foi um problema. não consigo enxergar algo que explique essa dificuldade que persiste feito inverno na sibéria. alguns chegam a apontar fatores que talvez sejam capazes de explicar esse quebra-molas insensato: os signos e os ascendentes com suas luas e sóis que nunca disseram muita coisa pra mim, os problemas não resolvidos de uma infância e adolescência que insistem em se prolongar no tempo e no espaço, uma aspereza condizente com a modernidade. enfim, são muitos, mas o assunto aqui, se desloca para outro lado. outra visão.
passei um bom tempo enfurnado em mim mesmo, com alguns problemas de saúde, mental e física. isso é um fato e um fardo. o tudo que já foi dito acima pode ter ou não ocasionado ou influenciado esses problemas. mas pouco importa, porque, de novo, a abordagem é outra.
veja bem, nesse período de claustro em mim mesmo percebi que não me conheço. mas não me refiro aos meus sentimentos mais recônditos, ao meu real eu, à minha existência contra o sol, minhas ideias que são cuspidas na rua, meus relacionamentos, minha vida extracorpórea. não. de modo algum.
eu não conheco meu corpo. minha biologia. e quando digo isso, não me deixo surpreender por qualquer piadinha que possa vir a relacionar isso diretamente à atos sexuais imbuídos de solidão. não de novo. ledo engano.
eu não sei sentir. explico. às vezes sinto uma dor no corpo. uma dor qualquer. se é nas costas, não consigo especificar se ela vem do pulmão, ou se vem do músculo, ou talvez do osso, ou se realmente a dor é nas costas, e não, de repente, no começo do braço.
mas já esse pensamento, me leva a sentir pontadas no braço que podem se estender até o antebraço e muitas vezes para meus dedos. fica a dúvida: será que é mesmo no braço, ou a bastarda vem do coração. logo, começo a tentar sentir se a dor vem do coração. e descubro que pode ser, mas aí sinto que a dor vem mais debaixo. acontece então que não tenho como dizer, graças a essa imprecisão, se a quenga da vem do fígado, do baço, estômago, ou de novo, se é uma dor epitelial ou muscular.
(braço. que palavra engraçada. braço)
o que isso ocasiona? quando faço um esforço a mais, vamos supor, carregando um piano de cauda, e no dia seguinte sinto dores nas costas, no peito e nos braços, posso estar tendo um ataque cardíaco concorrente à uma doença pulmonar obstrutiva crônica ou até uma pneumonia súbita e mortal e ainda, acumulação tóxica de acido láctico no meu músculo com uma provável cirrose, dado o fato de que aprecio exageradamente as doses que a vida oferece tão facilmente.
mas as possibilidades são imensas, e quanto mais se sabe, mas se inventa.
passei a evitar séries médicas, reportagens, programas de saúde no discovery, qualquer coisa que me faça descobrir doenças novas.
outro dia senti uma dor de cabeça. mas nunca soube se era na cabeça mesmo, ou no meu olho, ou na pirâmide nasal. sentia até umas outras dores, que podiam ser reflexos, na nuca, e também no pescoço. na verdade, não sei. e esse é ponto. eu não consigo dizer onde dói. pensei em aneurisma. e também em sinusite. mas não afastei a possibilidade de meningite meningocócica. depois de muito pensar, cogitei que talvez a dor viesse do ouvido. bigorna.
acaba que tudo vira uma crônica da dor, ou talvez uma dor-crônica. questão de estilo. o consumidor que escolhe. ou melhor, o enfermado.
passei um bom tempo enfurnado em mim mesmo, com alguns problemas de saúde, mental e física. isso é um fato e um fardo. o tudo que já foi dito acima pode ter ou não ocasionado ou influenciado esses problemas. mas pouco importa, porque, de novo, a abordagem é outra.
veja bem, nesse período de claustro em mim mesmo percebi que não me conheço. mas não me refiro aos meus sentimentos mais recônditos, ao meu real eu, à minha existência contra o sol, minhas ideias que são cuspidas na rua, meus relacionamentos, minha vida extracorpórea. não. de modo algum.
eu não conheco meu corpo. minha biologia. e quando digo isso, não me deixo surpreender por qualquer piadinha que possa vir a relacionar isso diretamente à atos sexuais imbuídos de solidão. não de novo. ledo engano.
eu não sei sentir. explico. às vezes sinto uma dor no corpo. uma dor qualquer. se é nas costas, não consigo especificar se ela vem do pulmão, ou se vem do músculo, ou talvez do osso, ou se realmente a dor é nas costas, e não, de repente, no começo do braço.
mas já esse pensamento, me leva a sentir pontadas no braço que podem se estender até o antebraço e muitas vezes para meus dedos. fica a dúvida: será que é mesmo no braço, ou a bastarda vem do coração. logo, começo a tentar sentir se a dor vem do coração. e descubro que pode ser, mas aí sinto que a dor vem mais debaixo. acontece então que não tenho como dizer, graças a essa imprecisão, se a quenga da vem do fígado, do baço, estômago, ou de novo, se é uma dor epitelial ou muscular.
(braço. que palavra engraçada. braço)
o que isso ocasiona? quando faço um esforço a mais, vamos supor, carregando um piano de cauda, e no dia seguinte sinto dores nas costas, no peito e nos braços, posso estar tendo um ataque cardíaco concorrente à uma doença pulmonar obstrutiva crônica ou até uma pneumonia súbita e mortal e ainda, acumulação tóxica de acido láctico no meu músculo com uma provável cirrose, dado o fato de que aprecio exageradamente as doses que a vida oferece tão facilmente.
mas as possibilidades são imensas, e quanto mais se sabe, mas se inventa.
passei a evitar séries médicas, reportagens, programas de saúde no discovery, qualquer coisa que me faça descobrir doenças novas.
outro dia senti uma dor de cabeça. mas nunca soube se era na cabeça mesmo, ou no meu olho, ou na pirâmide nasal. sentia até umas outras dores, que podiam ser reflexos, na nuca, e também no pescoço. na verdade, não sei. e esse é ponto. eu não consigo dizer onde dói. pensei em aneurisma. e também em sinusite. mas não afastei a possibilidade de meningite meningocócica. depois de muito pensar, cogitei que talvez a dor viesse do ouvido. bigorna.
acaba que tudo vira uma crônica da dor, ou talvez uma dor-crônica. questão de estilo. o consumidor que escolhe. ou melhor, o enfermado.
acabo que viro meu próprio personal woody allen, como costuma dizer um grande amigo meu
3 comentários:
Adorei a crônica. Adoro como seus textos parecem um brainstorm super surtado.
Também tenho essa de não saber da onde vem a dor. É horrível. E quando você começa a refletir sobre da onde ela vem, novas áreas começam a se manifestar também. Pânico.
E a gente nunca para pra pensar nisso né... e no final das contas, ninguém se conhece mesmo... assim, fisicamente falando...
Chegou a rolar uma tonteira aqui.
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