O que é poesia?
O que é poesia? Bem, respondi essa questão há pouco tempo e, pelo menos, por enquanto, continuo pensando do mesmo modo: A arte da vida. A arte da palavra. Uma gaúcha linda por quem estou apaixonado. Na verdade, as três coisas juntas. O resto é literatura.
E para que serve a poesia?
A poesia nos acompanha em um universo de coisas. Nos acompanha na leitura e no êxtase, nos treina a musculatura do pensamento, nos educa os sentidos, nos alerta, nos distrai, a gente pode lê-la para a namorada, modula nossa garganta quando a lemos em voz alta, nos ajuda a entender a intensidade da palavra liberdade, nos ajuda a suportar dias como estes nos quais vivemos, nos acompanha a lembrança em tardes de tempestade, com ela podemos chatear os imbecis e podemos insultar os arrogantes e poderosos quando ficam como cachorros dentro d’água no escuro do poema etc. etc. etc. Ela atua em tanta coisa...essas coisas sem preço, sabe? Essas coisas que, justamente por não terem preço, não podem ser substituídas por qualquer outra coisa, porque a curtição com a poesia não tem equivalente e está acima de qualquer preço. E como escreveu Kant: “quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto, não permite equivalente, então ela tem dignidade”. A poesia, meu amigo, é um afazer cheio de dignidade.
Agora, para o que NÃO serve a poesia?
A poesia não serve para ser capacho de ninguém, não serve para ser trampolim de ninguém, não serve para ser caixa dois de canalhas lite-ratos e burrocratas. A poesia é uma das células antiutilitárias da vida. A poesia não serve para servir.
Hoje em dia, poesia enche barriga?
A poesia mata outro tipo de fome e outro tipo de sede. A sede de um apaixonado não é qualquer copo d’água que mata. E poesia é coisa de apaixonados.
Se o Brasil fosse uma poesia, seria qual?
A mais atrasada e falsa possível.
Em uma guerra entre prosa e poesia, quem conquistaria 24 territórios mais fácil?
Não acredito há tempos em divisão de gêneros, portanto não construo muralhas entre a chamada poesia e a chamada prosa. Agora, esse negócio de conquista dos 24 territórios (do público) é coisa de artinha barateada e sucateada, textinhos psicologistas que agradam a todos, mas não enriquecem o paladar de ninguém. Como os 24 territórios amam o que é fácil, o que os conquistaria seria, destarte, algo feito só de facilidades, regado com o caldo do jeitinho brasileiro.
Acredita que a poesia em megabyte vai ter, um dia, moral a ponto de acabar com o papel do papel?
Não. Também não acredito em diferenciação hierárquica entre este ou aquele modo (ou plataforma). A poesia que tenha alguma dignidade, qualidade, força, vida, esta fica. O resto passará.
Fabiano Calixto é poeta, mora em Garanhuns (PE), é mestrando em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, publicou os livros Algum (edição do autor, 1998), Fábrica (Alpharrabio Edições, 2000), Um mundo só para cada par (Alpharrabio Edições, 2001), Música possível (CosacNaify/7Letras, 2006) e Sangüínea (Editora 34, 2007) – finalista do Prêmio Jabuti de 2008 na Categoria Melhor Livro de Poesia, traduziu poemas de Gonzalo Rojas, Allen Ginsberg, John Lennon, Laurie Anderson, traduz atualmente, a obra de Benjamín Prado, é um dos editores da revista Modo de Usar & Co., prepara uma revista de artes de edição única e seu novo livro de poemas, intitulado Nominata morfina. Além disso tudo, tem um gosto roquenrrôulico deveras exemplar.
Foto: Regiane Coelho
O que é poesia? Bem, respondi essa questão há pouco tempo e, pelo menos, por enquanto, continuo pensando do mesmo modo: A arte da vida. A arte da palavra. Uma gaúcha linda por quem estou apaixonado. Na verdade, as três coisas juntas. O resto é literatura.
E para que serve a poesia?
A poesia nos acompanha em um universo de coisas. Nos acompanha na leitura e no êxtase, nos treina a musculatura do pensamento, nos educa os sentidos, nos alerta, nos distrai, a gente pode lê-la para a namorada, modula nossa garganta quando a lemos em voz alta, nos ajuda a entender a intensidade da palavra liberdade, nos ajuda a suportar dias como estes nos quais vivemos, nos acompanha a lembrança em tardes de tempestade, com ela podemos chatear os imbecis e podemos insultar os arrogantes e poderosos quando ficam como cachorros dentro d’água no escuro do poema etc. etc. etc. Ela atua em tanta coisa...essas coisas sem preço, sabe? Essas coisas que, justamente por não terem preço, não podem ser substituídas por qualquer outra coisa, porque a curtição com a poesia não tem equivalente e está acima de qualquer preço. E como escreveu Kant: “quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto, não permite equivalente, então ela tem dignidade”. A poesia, meu amigo, é um afazer cheio de dignidade.
Agora, para o que NÃO serve a poesia?
A poesia não serve para ser capacho de ninguém, não serve para ser trampolim de ninguém, não serve para ser caixa dois de canalhas lite-ratos e burrocratas. A poesia é uma das células antiutilitárias da vida. A poesia não serve para servir.
Hoje em dia, poesia enche barriga?
A poesia mata outro tipo de fome e outro tipo de sede. A sede de um apaixonado não é qualquer copo d’água que mata. E poesia é coisa de apaixonados.
Se o Brasil fosse uma poesia, seria qual?
A mais atrasada e falsa possível.
Em uma guerra entre prosa e poesia, quem conquistaria 24 territórios mais fácil?
Não acredito há tempos em divisão de gêneros, portanto não construo muralhas entre a chamada poesia e a chamada prosa. Agora, esse negócio de conquista dos 24 territórios (do público) é coisa de artinha barateada e sucateada, textinhos psicologistas que agradam a todos, mas não enriquecem o paladar de ninguém. Como os 24 territórios amam o que é fácil, o que os conquistaria seria, destarte, algo feito só de facilidades, regado com o caldo do jeitinho brasileiro.
Acredita que a poesia em megabyte vai ter, um dia, moral a ponto de acabar com o papel do papel?
Não. Também não acredito em diferenciação hierárquica entre este ou aquele modo (ou plataforma). A poesia que tenha alguma dignidade, qualidade, força, vida, esta fica. O resto passará.
Fabiano Calixto é poeta, mora em Garanhuns (PE), é mestrando em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, publicou os livros Algum (edição do autor, 1998), Fábrica (Alpharrabio Edições, 2000), Um mundo só para cada par (Alpharrabio Edições, 2001), Música possível (CosacNaify/7Letras, 2006) e Sangüínea (Editora 34, 2007) – finalista do Prêmio Jabuti de 2008 na Categoria Melhor Livro de Poesia, traduziu poemas de Gonzalo Rojas, Allen Ginsberg, John Lennon, Laurie Anderson, traduz atualmente, a obra de Benjamín Prado, é um dos editores da revista Modo de Usar & Co., prepara uma revista de artes de edição única e seu novo livro de poemas, intitulado Nominata morfina. Além disso tudo, tem um gosto roquenrrôulico deveras exemplar.
Foto: Regiane Coelho
4 comentários:
Nossa, destruiu o Brasil.
ahahaha
Gostei da entrevista.
O Brasil já está tronchado o suficiente.
Acredito que ainda tem mais pro fundo do poço...rsrsrs
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