Vida no aquário

Surjo aqui de repente para recomendar um filme muito bom que assisti esses dias: Fish Tank (no Brasil, "Aquário"). O filme é de 2009, e esse ano ganhou um prêmio no BAFTA Film Award (Outstanding British Film), o Jury Prize no Festival de Cannes ano passado, entre outros. Ando com problemas para escrever, mas Fish Tank praticamente me obrigou a sentar e escrever sobre ele.

O filme se passa em um subúrbio londrino nos dias atuais e conta a história de Mia Williams, uma adolescente de 15 anos (interpretada pela atriz revelação Katie Jarvis), e sua família disfuncional - uma mãe totalmente piranhuda indiferente e sua irmãzinha desbocada e marrenta, vivendo num apartamento cubículo da periferia.

Mia se sente à parte do mundo e não tem amigos na vizinhança. O filme consegue passar bem a rejeição que a personagem sente e a maneira como ela se fecha em seu próprio mundo. Ela é o tipo de pessoa que internaliza as emoções e suas válvulas de escape são a dança no estilo Hip Hop e a bebida.

Já a mãe de Mia é aquele tipo de mãe que em nenhum momento é carinhosa e só pensa nela própria. Aquele estilo de pessoa "amável" que diz para os filhos que pensou em abortá-los. Na verdade, a única cena do filme que passa uma certa sensação de afeto entre a mãe e suas filhas é quando elas dançam juntas um rap na sala de casa.

Até que surge na história Connor (interpretado pelo hottie Michael Fassbender, mais conhecido por seu papel em Inglorious Basterds), o namorado da mãe de Mia, que passa a viver em sua casa. Apesar da rejeição no momento inicial, Mia começa a se aproximar de Connor. Sempre elogiando suas danças e mostrando interesse por suas atividades, ele passa a ser o estímulo que ela nunca teve e sua representação de figura masculina. Até que, dentro de sua inocência, Mia passa a olhar diferente para Connor. Enfim, já dá pra imaginar que essa história dá em confusão.

E a cena com o cavalo (calma, não pensem bobagem), a única em que Mia chora, é muito poética. Eu sempre me encanto com cenas simples que conseguem passar uma mensagem.

Enfim, o filme é uma boa visão da classe média baixa "white trash", e de um mundo de corredores apertados onde as crianças bebem e fumam e "eu te odeio" significa, na verdade, que se ama. Só não espere ficar feliz depois de assistir esse filme.

Segue o trailer:

P.S. Altamente recomendada também a versão de California Dreamin' do Bobby Womack que faz parte da trilha sonora do filme (eu sinceramente só conhecia a versão fanfarrona boate gay do Royal Gigolos e a original do The Mammas and The Pappas). Simplesmente fantástica.