Em pouco mais de doze meses conseguimos levar ao palco da Roqueadores ótimas ban
das como Os Azuis, Stereomob, a própria Duques, Wagner José e seu bando, Rockz, Canastra, Colombia Coffee e, mais recentemente, as respectivamente gaúcha e mato-grossense Superguidis e Macaco Bong.
A maioria das bandas que já passaram pela Roqueadores eu já pude presenciar ao vivo em outras vezes. A maioria é carioca, o que facilita. A única até então inédita no meu currículo de shows era a Macaco Bong. E foi justamente o ineditismo que me impressionou de forma totalmente sublime.
Pra quem não conhece, a Macaco Bong é um trio de Cuiabá que faz um inacreditável rock instrumental.
Quando a banda chegou para a passagem de som, pudemos perceber e sentir nos olhos dos três a simplicidade e tranquilidade dos caras. Eles querem é fazer música e nada mais.
E essa simplicidade é notada até nos equipamentos da banda. Ouvi um pessoal que enten
de dessas coisas comentar quando viram os pedais simples e gastos: “Sério, eles só trazem isso?”. E nada mais parecia necessário. É meio aquele papo de que ostentação demais significa que, na hora H, você não faz nada direito: não escreve, não toca etc.
Quando o show começou, eu estava sóbria. Uma insuportável dor de estômago me fez ficar lúcida por toda a noite e acompanhar cada detalhe com mais precisão. E agradeço ao meu estômago por não me deixar perder cada acorde tocado por aqueles três caras.
Macaco Bong na @Roqueadores
Os integrantes – tímidos e reservados – pouco falavam durante o show, mas diziam tudo que eles queriam passar se utilizando apenas de uma guitarra, um baixo e uma bateria.
Cheguei a comparar a catarse sonora que o Macaco Bong me levou a de uma experiência sexual. Pra mim, foi como a primeira vez, onde você vai ao céu e não quer que acabe jamais. E eu podia ver essa experiência nos olhos deles. Algumas vezes eles se entreolhavam, como quando você olha para um parceiro sexual durante o ato: com silêncio vocal, mas com todas as palavras exalando pelos poros, sendo ditas pelo suor do seu corpo.
E era exatamente isso que acontecia bem ali, na minha frente. No caso deles, através do suor, mas também da guitarra, do baixo, da bateria, da música.
Enquanto assistia ao show, uma sensação única tomou parte de mim. Quem me conhece sabe o quão musical eu sou, sabe que sou viciada em shows e faço questão de frequentar o maior número de apresentações possíveis, mas creio que nunca uma banda que eu conhecia há pouco tempo pudesse me tomar daquela forma.
Isso sim é música. Não desmerecendo os mestres que conseguem musicar poesia, transformar e exteriorizar um sentimento tão particular quanto as palavras. Mas as palavras sozinhas podem ser apenas textos, apenas literatura. Mas quando acompanhadas do instrumental, aí sim se tornam a música completa em sua forma e sentimento que conhecemos.
O instrumental é música pura. É música sentida. Música transpirada. Música gozada. Música.
Ainda não acredito que eu estou escrevendo esse texto tão dedicado ao prazer, ao prazer da música...
Quem me conhece sabe o quão puritana com o assunto sexo eu sou. Mas não encontrei outra descrição que não a carnal para que eu pudesse fazê-los sentir o mesmo que senti durante o show da Macaco Bong.
Mas suponhamos que este texto não tenha sido escrito por mim. E quer saber? Na verdade não fui eu que escrevi. Foi uma participante de um ritual íntimo, ainda cansada, que, mesmo após alguns dias, permanece – mesmo que na memória - ao lado do seu parceiro transpirando e flutuando após o fim do ato. Ato este que só participa quem foi convidado e/ ou se dispôs a estar ali. E não é qualquer um que consegue se desprender e gozar diante de tais experiências. Diante daquela histórica experiência musical para mim e para a Roqueadores.
Parabéns ao Kayapy, ao Ynaiã e ao Ney por conseguirem levar simples mortais à loucura fazendo música.
Sem mais palavras. Apenas transpiração. Voltem sempre.
4 comentários:
música sexual; sexo musical. adorei a ideia.
Quando esntrevistei a pianista Délia Fischer (que fez os arranjos da peça Beatles num Céu de Diamantes), ela me disse que tem raiva de gente que usa o termo "música instrumental", já que a música também tem a sua própria voz (assim como a voz também é um instrumento).
No mais, música boa é isso mesmo: sexo. Senão, não penetrava (ui)na gente.
ps: banda DO CARALHO, e ainda toco bateria!
RAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
FODA³
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