E tudo que eu pensei
e tudo que eu falei
e tudo que me contaram
era papel.
E tudo que descobri
amei
detestei:
papel
Papel quanto havia em mim
e nos outros, papel
de jornal
de parede
de embrulho
papel de papel
papelão.
Carlos Drummond de Andrade - Papel
(As Impurezas do Branco, 1973)
e tudo que eu falei
e tudo que me contaram
era papel.
E tudo que descobri
amei
detestei:
papel
Papel quanto havia em mim
e nos outros, papel
de jornal
de parede
de embrulho
papel de papel
papelão.
Carlos Drummond de Andrade - Papel
(As Impurezas do Branco, 1973)
O gênio Fausto Wolff partiu para a redação jornalística do pós-vida há dois anos. Acredito que ele deve estar por lá escrevendo suas crônicas ácidas fabulosas e rogando todo o sortilégio de pragas pelo fim da edição impressa do Jornal do Brasil, o qual foi colunista e que não poupava o "fogo amigo" nem mesmo ao veículo. Afinal, Fausto Wolff era o ombudsman do mundo.
Falando em Jornal do Brasil, um mês depois do fim da edição impressa (e um mês depois de começar a estagiar no jornal), tive uma conversa rápida no elevador da faculdade com um amigo que também cursa jornalismo. Ele se demonstrou bastante surpreso com a notícia:
- O jornal acabou, é? Caraca, que doido. Sei lá, eu nunca li, mas que doido isso...
O presidente do Conselho de Administração da The New York Times Company, Arthur Sulzberger, afirmou que, um dia, o jornal New York Times vai deixar de circular em papel para atender apenas às plataformas digitais. De acordo com ele, essa tendência é irreversível. Também acredito nisso. Afinal, todo mundo já tem capacidade de comprar um kindle da vida ou qualquer outra plataforma de leitura para os periódicos digitais. Como é notório, o jornalismo mundial vem crescendo a cada dia e os profissionais vem sendo cada vez melhor remunerados para o ofício, enfim, tão valorizado. Além disso, todo mundo lê jornal, de ponta a ponta.
Ou não?
Um dia destes, na saída do CCBB, escutei de novo a clássica pergunta "você gosta de poesia?". O simpático mancebo me oferece um fanzine escrito à mão com versos e sonetos próprios. Um trabalho bem artesanal e punk, digno da época dos poetas da geração mimeógrafo. Fiquei impressionado como ainda existe gente que escreve a mão, pois a caligrafia era muito boa.
Já os versos...
No futuro distópico de Waterworld, em que o mundo todo naufraga assim como a bilheteria do filme, uma das relíquias mais caras era o afeltrado de fibras unidas em questão, mesmo que só encontrado completamente rabiscado, molhado, sujo ou amassado. Os navegantes do filme guardavam os chumaços de papel como única fonte de mídia "seca" que existia no mundo, retrato de uma época passada.
O Rio Fanzine encerrou sua edição em papel depois de 24 anos como o único zine do país que era veiculado dentro de um jornal "major". Trend catcher desde o início, fazia questão de mostrar o que acontecia justamente em uma época que as fronteiras do underground e do mainstream ainda eram mais delineadas. Sobre isso, o blog do zine escreveu:
- "Hoje aquele underground do Rio Fanzine está por cima, está em toda a parte. Ele não precisa, portanto, mais existir naquele velho espaço."
Como aspirante a jornalista, estou sempre com um bloquinho. Porém, perdi minha caneta bic de estimação e fiquei 1 semana sem usar uma. Não senti falta, pois tenho pendrive. Não que isso seja bom, lógico...
(continua)
Um comentário:
Pu, só fui ler seu post agora. Admito que essa perspectiva do ''fim do papel'' me assusta bastante... Na faculdade eu estudei diversos teóricos que diziam que o impresso não iria acabar, mas sim sua função ia se reajustar. Não sei ao certo, acho que só o tempo vai nos dizer.
Na minha opinião, todas as formas podem conviver. Eu mando email, mas ainda escrevo cartas! Leio pdf, mas copro livro (vício). Escrevo em blog, mas não me desfaço de jeito algum dos meus diários de papel... Não é tão simples quanto parece, né?
''a caligrafia era muito boa.
Já os versos...'' >>> essa é a maldição dos poetas do ccbb, haaa
Postar um comentário