Semana passada, nos dias 5 e 6 de agosto, nós, os lifonodos @debsgauziski e @_puppet estivemos no Seminário Internacional Rumos da Cultura da Música, que aconteceu no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro. O evento foi realizado pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM- UFF), pelo Laboratório de Pesquisas em Culturas Urbanas e Tecnologias da Comunicação (LabCult-UFF) e pelo Globo Universidade.
A mesa de abertura teve como palestrante Jonathan Sterne (McGill University), falando sobre diferenças entre formatos musicais na audibilidade.
O primeiro painel do dia, “Paisagens sonoras e mediação tecnológica”, teve como palestrantes Jason Stanyek (NY University) e Franz Manata e Saulo Ladares (artistas e professores do Parque Lage/RJ). Stanyek apresentou sua pesquisa sobre colaboração entre vivos e mortos na música, citando como exemplo o caso da cantora Natalie Cole, filha de Nat King Cole, que usou samplers da voz do pai falecido em uma faixa – descrevendo a experiência como se seu pai estivesse presente. Manata e Ladares falaram sobre trabalhos experimentais de seus alunos do Parque Lage, e sobre experiências na criação de espaços físicos relacionados a música.
Já o segundo painel do dia, de tema “Os novos mediadores das cenas musicais”, teve como palestrantes Jeder Janotti (UFBA/UFPE) e Bruno Natal (blog URBe).
Janotti abriu a mesa, debatendo sobre crítica musical. Segundo ele, a crítica continua tendo uma posição fundamental na produção e consumo musical. No entanto, esta aparentemente ainda mantém a rotina do agendamento, com teasers de assessorias de imprensa e outras rotinas produtivas. As consequências são de que ainda permanece aquela imposição do que merece ou não visibilidade - seguindo o modelo do antigo (nem tão antigo assim) “crítico iluminista” (aquele que se coloca acima dos outros seres humanos, achando que é o único que detém conhecimento).
- Nunca se produziu tanta crítica. Mas até que ponto realmente consumimos, ouvimos as diferentes formas do fazer? – provocou Janotti.
Em seguida, Bruno Natal, do blog URBe, continuou o debate. O jornalista e documentarista falou sobre o surgimento do blog e da sua visão do cenário tecnológico atual. Para ele, o papel de sua geração é de ponte entre o mundo antigo e o novo (“Quando eu era criança, pesquisava em enciclopédias; na faculdade, na internet”).
- O retrato dessa geração de hoje estará nos blogs, não nos jornais – opinou.
Para Natal, o papel dos blogs hoje é de filtragem, não de crítica propriamente dita. Nesse cenário onde as informações ficam soltas, os internautas escolhem pessoas com as quais se identificam e que filtrarão o conteúdo para eles. De acordo com ele, também não importa se a notícia surge num blog, pois este é apenas mais uma ferramenta - informação é informação. Natal fez ainda uma crítica bem humorada à importância elevada que a imprensa atual dá ao surgimento de novas bandas (“O cara tá no banheiro e resolve fazer uma banda, vai no Myspace e cria um perfil em 2 minutos. Deveria ter pensado mais...”).
No segundo dia de evento, o painel de abertura foi sobre práticas musicais em novos espaços, que teve as pesquisadoras Kiri Miller (Brown University) e Adriana Amaral (Unisinos).
Kiri Miller abordou questões estéticas dos games Guitar Hero e Rock Band (blog com a pesquisa). Adriana Amaral debateu o fansourcing na música, apresentando exemplos em vídeos de lipdub (dublagem de músicas feitas por fãs) e plataformas de música online, como o Last.fm.
O próximo painel teve o tema “Novos negócios, novos atores”, tendo Felipe Trotta (UFPe), Pablo Capilé (Coletivos Fora do Eixo e Espaço Cubo) e Micael Herschmann (ECO/UFRJ) como palestrantes.
Felipe Trotta abordou sua pesquisa sobre os conglomerados do forró. Depois, Capilé apresentou dados desde 2005 dos coletivos Fora do Eixo e Espaço Cubo. Ele fez ainda uma crítica ao cenário independente do Rio de Janeiro. Perguntado sobre quais seriam as possíveis razões para parcerias com o Rio não vingarem, ele apontou a cultura do VIP e a falta de iniciativa das bandas.
- Parece que no Rio as bandas se preocupam em matar primeiro o “último chefão” para depois jogar as outras fases. O cara acha que ir ao Projac de carro é mais viável que tocar em um festival que terá projeção para todo o país - alfinetou.
Da esquerda para a direita: Herschmann, o mediador Vinícius Pereira (UERJ), Capilé e Trotta.
Depois foi a vez de Herschmann apresentar seu projeto sobre novos negócios na indústria da música. Ele abordou a questão da reestruturação do mercado em tempos de crise da indústria fonográfica, que de acordo com sua pesquisa gira em torno de dois fatores - os negócios fonográficos (especialmente as vendas de músicas digitais) e os que gravitam em torno da música ao vivo. Segundo dados incorporados a sua pesquisa, cerca de 27% do comércio de música no mundo foi de compras digitais. Ao final, lançou a questão: será que o aumento da compra de músicas online se deu também pela mudança de postura dos empresários ao disponibilizar conteúdos gratuitos para os usuários?
No final do evento, nos deliciamos com um coquetel (de lançamento do livro com os artigos apresentados no evento) cheio de quitutes e com muita cerveja e caipirinha (sucesso mundial!). Ainda trocamos ideias com a Adriana Amaral e com o Jason Stanyek (ele fala português melhor que a gente), que são muito gente boa.
Resumindo, foi um evento bastante interessante, com paineis bem diversificados, e que nos fez sair de lá com mil ideias na cabeça - inclusive para o Linfa!
6 comentários:
cabecinhas a 1000 heim!?!?!?!
foda!
Só pude acompanhar a última palestra pela rede... A que antecedeu ao lançamento do livro. De todos, acho q só consegui dar crédito mesmo ao Herschmann (será q por ser da UFRJ tbm?? rsss)... Claro que deve ter surgido ainda coisa muito interessante... Gostaria de ter assistido, particularmente, à palestra das "meninas"...
Só tem uma coisa nesse povo q lida com o mundo digital que me irrita... Profundamente: isso de achar q a tal rede é a realidade última das coisas e q todos estão imersos nela. O ser humano é também muito resistente à mudanças e existe um zilhão de pessoas produzindo e criando coisas em outros formatos para públicos de outras esferas q estão à margem da rede pelo q pude observar nas minhas andanças... É só que... É uma realidade diferente das grandes capitais.
Contudo, acho que, pelo menos, a iniciativa de discussão já é um ótimo começo! De mais a mais... "O caminho se faz ao caminhar..."
Eu gostei muito de todas as palestras. Engraçado que pra mim a mais legal foi a do Pablo Capilé, que nem acadêmico é, mas vc sentia que ele sabia do que estava falando pq realmente vive aquilo.
Quanto ao que você disse sobre a postura "a internet é a única realidade" - não pude perceber nenhuma tendência desse tipo nos palestrantes. E não acho que é algo generalizado entre os acadêmicos. Talvez pelos pesquisadores de cibercultura viverem mais imersos na Rede que dê um pouco essa impressão, mas existem pesquisadores dedicados à folkcomunicação e às outras culturas. Se bem que, é aquela coisa, hoje até as aldeias indígenas têm internet - a tendência com o passar dos anos é que cada vez mais pessoas se conectem. E isso não quer dizer que as culturas diversificadas irão se unificar e perder suas características específicas. A internet é só mais um meio, mais democrático, porém mais um. E sem as produções que são feitas no mundo offline, ela não teria propósito algum.
Ótimo evento. As explanações do Capilé e do Bruno me abriram muito a cabeça para vários assuntos, principalmente, sobre o mercado musico-cultural """""LINDO""""" do nosso estado.
Ah, ótimas capirinhas também, FACTO. ^^
Pu, não sei se vc viu, mas o Fora do Eixo fara um congresso Rio- SP em... São Paulo! Porra!
Depois dessa palestra me deu uma vontade de... fazer um coletivo... #Comofas?
Bem, os Duques tocaram em um evento do Fora do Eixo lá no Sul e foram MUITO bem elogiados como banda carioca. No mínimo, isso mostrou para eles que, no Rio, tem ALGO acontecendo.
Creio que é só pegar os contatos e reunir a galera interessada para formar uma cúpula. Mas galera ENGAJADA, se é que me entende... ^^
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