O motorista apareceu com um sorriso sedento na cara, de lóbulo à lóbulo.
Finalmente o “brinquedinho” ia ser utilizado. Caminhou até o meio do ônibus, com ar soberbo, ele e mais três capangas, provavelmente, outro motorista amigo de labuta e o despachante.
Taí, despachante: “O meu pai é detetive, o seu é despachante”. Funk das antigas. Até hoje não entendi o contexto exato. Muita coisa não entendo e continuo seguindo a vida, assim como continuo seguindo o texto.
Caminhou até o meio do ônibus, onde estava a porta lateral que fora instalada igualmente em grande parte dos coletivos do rio de janeiro em razão das olimpíadas, de políticas inclusivas e mais outros porquês que não valem o tempo precioso da leitura na internet.
Pediu para que outro companheiro que se encontrava dentro do lotação acionasse o mecanismo, porque “o rapaz na cadeira de rodas” queria entrar.
Finalmente o “brinquedinho” ia ser utilizado. Caminhou até o meio do ônibus, com ar soberbo, ele e mais três capangas, provavelmente, outro motorista amigo de labuta e o despachante.
Taí, despachante: “O meu pai é detetive, o seu é despachante”. Funk das antigas. Até hoje não entendi o contexto exato. Muita coisa não entendo e continuo seguindo a vida, assim como continuo seguindo o texto.
Caminhou até o meio do ônibus, onde estava a porta lateral que fora instalada igualmente em grande parte dos coletivos do rio de janeiro em razão das olimpíadas, de políticas inclusivas e mais outros porquês que não valem o tempo precioso da leitura na internet.
Pediu para que outro companheiro que se encontrava dentro do lotação acionasse o mecanismo, porque “o rapaz na cadeira de rodas” queria entrar.
E lá foi o amigo, apertar o tal botão.
A fila imensa, inquieta, se rearrumando para assistir pela primeira vez o mencionado aparato sendo utilizado. Uns fingiam que iam comprar pipoca e estacionavam na frente da barraquinha que garantia uma visão privilegiada da cena. Outros saíam pra fumar e “acidentalmente” passavam quase ao lado da porta. A grande maioria não se apoquentou com coisa alguma, saiu da fila apenas para observar o fato e pronto e ponto.
Até figurou na minha cabeça o constrangimento que o “rapaz na cadeira de rodas” estava passando, mas não me fiz de rogado, porque também sou filho de deus e acabei me mutando numa dessas pessoas que apenas saiu da fila e como estivesse numa aula prática de eletromecânica industrial, observei atentamente o professor-motorista.
E pode parecer impossível, ridículo, até mesmo exagero, mas ele tinha uma didática inimaginável. As pessoas aglutinadas em frente ao cadeirante e à porta especial, e o motorista explicando para a multidão enlouquecida (ta, ok, exagero) o passo a passo do processo de sobe e desce da escadinha.
Aperta ali, ela desce, depois ajusta com o nível da calçada, e depois coloca o rapaz aqui, aperta ali, meia volta volver, e pronto... o elevador o levara as portas do paraíso que é o 2111 e seu ar condicionado super potente. Quase um spring.
Depois da aula teórica, a prática. Tudo aconteceu, até determinada etapa, conforme os poréns. O pequeno elevador desceu, o apito indicando a descida iniciou, o nivelamento com a calçada, a multidão esbabacada, só faltou aqueles aplausos de filme norte-americano. Acho que alguém ali, não eu, juro, por dentro, aplaudiu. Eu acho.
Mas foi nesse momento que as coisas começaram a se abrasileirar.
Descida a rampa, o apito renitente insistia, e lá iria continuar até que o rapaz estivesse dentro, seguro, embarcado no ônibus. E lá foi ele pro seu reservado lugar. Encaixou a cadeira de costas e voilá. Só faltava apertar o botão para que o elevador subisse.
E foi isso o que aconteceu. O motorista tomou espaço, se posicionou, fez cara de astronauta embarcando na Discovery e pá, apertou o botão.
Uma tremedeira na rampa, um barulho esquisito, o cadeirante, com o perdão da palavra, bolado, e nada do troço subir.
A cúpula se reuniu em volta do aparelho, uns olhares, uns dedos apontados, mexe aqui, mexe ali, sirene infernal, moça com pipoca. O cadeirante, já tenso, resolveu pedir para o tirassem dali, mas parece que não foi ouvido. Eles, todos, nós, estávamos entretidos demais com a maquininha e suas implicações técnicas e sociais. Pediu umas três vezes, até que uma alma bondosa, o vendedor de chocolate, que acabou vendendo um para este rapaz, o tirou. Bom marketing, pensei.
Podem pensar, você, rapaz que nos conta esta história, poderia ter tirado.
É, eu poderia. Mas não sou esse tipo de pessoa que ajuda. Me desculpem, podem até parar de ler, mas não sou assim. Deve ser minha educação católica bem falha. Fiquei pensando em como ia relatar esse imbróglio. Acho que faço mais assim. Não que seja proposital, esquece.
Pois bem, fato foi que tiraram o rapaz de lá. E não fui eu.
A sirene nunca parou. permaneceu incessantemente aguda e insensível ao estresse coletivo que começava a mostrar sua cara.
Então o espetáculo a parte começou. Depois de várias mexidas com dedinhos, e mãozinhas, e conversas circunspectas, o despachante lançou a palavra de ordem:
A fila imensa, inquieta, se rearrumando para assistir pela primeira vez o mencionado aparato sendo utilizado. Uns fingiam que iam comprar pipoca e estacionavam na frente da barraquinha que garantia uma visão privilegiada da cena. Outros saíam pra fumar e “acidentalmente” passavam quase ao lado da porta. A grande maioria não se apoquentou com coisa alguma, saiu da fila apenas para observar o fato e pronto e ponto.
Até figurou na minha cabeça o constrangimento que o “rapaz na cadeira de rodas” estava passando, mas não me fiz de rogado, porque também sou filho de deus e acabei me mutando numa dessas pessoas que apenas saiu da fila e como estivesse numa aula prática de eletromecânica industrial, observei atentamente o professor-motorista.
E pode parecer impossível, ridículo, até mesmo exagero, mas ele tinha uma didática inimaginável. As pessoas aglutinadas em frente ao cadeirante e à porta especial, e o motorista explicando para a multidão enlouquecida (ta, ok, exagero) o passo a passo do processo de sobe e desce da escadinha.
Aperta ali, ela desce, depois ajusta com o nível da calçada, e depois coloca o rapaz aqui, aperta ali, meia volta volver, e pronto... o elevador o levara as portas do paraíso que é o 2111 e seu ar condicionado super potente. Quase um spring.
Depois da aula teórica, a prática. Tudo aconteceu, até determinada etapa, conforme os poréns. O pequeno elevador desceu, o apito indicando a descida iniciou, o nivelamento com a calçada, a multidão esbabacada, só faltou aqueles aplausos de filme norte-americano. Acho que alguém ali, não eu, juro, por dentro, aplaudiu. Eu acho.
Mas foi nesse momento que as coisas começaram a se abrasileirar.
Descida a rampa, o apito renitente insistia, e lá iria continuar até que o rapaz estivesse dentro, seguro, embarcado no ônibus. E lá foi ele pro seu reservado lugar. Encaixou a cadeira de costas e voilá. Só faltava apertar o botão para que o elevador subisse.
E foi isso o que aconteceu. O motorista tomou espaço, se posicionou, fez cara de astronauta embarcando na Discovery e pá, apertou o botão.
Uma tremedeira na rampa, um barulho esquisito, o cadeirante, com o perdão da palavra, bolado, e nada do troço subir.
A cúpula se reuniu em volta do aparelho, uns olhares, uns dedos apontados, mexe aqui, mexe ali, sirene infernal, moça com pipoca. O cadeirante, já tenso, resolveu pedir para o tirassem dali, mas parece que não foi ouvido. Eles, todos, nós, estávamos entretidos demais com a maquininha e suas implicações técnicas e sociais. Pediu umas três vezes, até que uma alma bondosa, o vendedor de chocolate, que acabou vendendo um para este rapaz, o tirou. Bom marketing, pensei.
Podem pensar, você, rapaz que nos conta esta história, poderia ter tirado.
É, eu poderia. Mas não sou esse tipo de pessoa que ajuda. Me desculpem, podem até parar de ler, mas não sou assim. Deve ser minha educação católica bem falha. Fiquei pensando em como ia relatar esse imbróglio. Acho que faço mais assim. Não que seja proposital, esquece.
Pois bem, fato foi que tiraram o rapaz de lá. E não fui eu.
A sirene nunca parou. permaneceu incessantemente aguda e insensível ao estresse coletivo que começava a mostrar sua cara.
Então o espetáculo a parte começou. Depois de várias mexidas com dedinhos, e mãozinhas, e conversas circunspectas, o despachante lançou a palavra de ordem:
Anda com esse ônibus ae irmão. Acho que prendeu na calçada por causa do peso do cara.
Vale ressaltar que já tinha passado pelo menos uns vinte minutos, a fila tinha triplicado, mesmo como os eventuais observadores, já tinha outro ônibus atrás, coisa de louco, um bafafá tremendo. E lá foi o motorista tentar andar com o ônibus. Não deu. Podia quebrar a rampa. Então, parou.
Ele parou, o barulho da sirene não. continuamente, servindo como trilha sonora pra este estapafúrdio. ION ION ION ... agradável. Muito.
O portador de necessidades especiais só olhava, já esquecido num canto, comendo seu segundo chocolate. Não disse que ter alma é um bom negócio, um bom marketing? Fica ae o conselho.
O despachante meio nervoso, com a situação toda, afinal ele tinha assumido o papel de herói salvador, resolveu tentar com sua força mover a plataforma.
Munido do controle remoto do elevador e um coturno quadradão, apertava o botão enquanto lançava sua perna contra as laterais frágeis da rampa:
Vale ressaltar que já tinha passado pelo menos uns vinte minutos, a fila tinha triplicado, mesmo como os eventuais observadores, já tinha outro ônibus atrás, coisa de louco, um bafafá tremendo. E lá foi o motorista tentar andar com o ônibus. Não deu. Podia quebrar a rampa. Então, parou.
Ele parou, o barulho da sirene não. continuamente, servindo como trilha sonora pra este estapafúrdio. ION ION ION ... agradável. Muito.
O portador de necessidades especiais só olhava, já esquecido num canto, comendo seu segundo chocolate. Não disse que ter alma é um bom negócio, um bom marketing? Fica ae o conselho.
O despachante meio nervoso, com a situação toda, afinal ele tinha assumido o papel de herói salvador, resolveu tentar com sua força mover a plataforma.
Munido do controle remoto do elevador e um coturno quadradão, apertava o botão enquanto lançava sua perna contra as laterais frágeis da rampa:
Essa porra não levanta. E chutava, e vociferava, uns três começaram a chutar junto, não sei se raiva ou realmente havia algo de cooperação nisso tudo.
Foram uns bons dez chutes, somados. E nada da coisa levantar.
Ae o maluco partiu pra agressão mesmo. Pra grosseria. Mandou tudo pra porra. Grudou no apoio lateral e sacudiu, e urrou. A sirene de um lado e ele do outro: essa porra vai levantar, essa porra vai levantar. Os comparsas foram La e tentaram acalma-lo, mas nada poderia conter a fúria desse despachante. NADA. Nem o detetive.
O ônibus balançando feito cama de motel, a sirene louca incessante repetindo repetindo repetindo íon íon íon íon, a velha reclamando, 40 minutos passados, pipoca, carninha, coca um real, chocolate no cadeirante, homem de terno reclamando, hora passando.
A multidão que aguardava dentro do ônibus (EHHHHHHHHHHHHHHH esqueci de dizer, o ônibus estava cheio, a fila aguardava o próximo que já estava lá) resolveu tomar uma atitude depois de zunirem algumas palavras soltas pro mundo externo tão afoito pelo ambiente de montanha criado pelo super ar-condicionado, desceram, invadiram o ônibus de trás, que seria, por direito nosso e pronto, estava iniciada a revolução.
Era ela, descendo pelas tabelas, vestida de blusa amarela, com a minha cabeça já numa travessa e toda aquela galera puxando o cordão.
O pessoal da fila se irritou, bradou contra os revolucionários, que não deram a mínima pro clamor geral e entrou mesmo e apesar de tudo, invadiu geral.
Numericamente éramos mais. Mas eles tinham um fator importantíssimo a favor deles: estavam refrescados. Numa guerra urbana como esta, o fato “frescura e grau de relaxamento” é primordial.
Ficamos então parados, gritando urros surdos que só serviriam pra fazer as gotas de suor estacionadas na testa escorrer pro buço. Inúteis na nossa essência de voyeur. Os revolucionários tomaram a embaixada do nosso conforto.
Imediatamente, após ter sido devidamente lotado, o NOSSO ônibus partiu, deixando aquele gostinho de espera eterna e calor insuportável.
O lotação da rampa, levou mais uns dez minutos na tentativa de levantar a rampa sem quebra-la, com o continuo ininterrupto renitente som de sirene de policia falida, ate que por milagre ou bom senso, alguém resolveu desistir da idéia e desligou o maldito verme do caos público.
Não sei como isso foi resolvido porque depois de meia hora, chegou outro ônibus e foi nesse q eu fui. Devem ter posto fogo no veículo. Ou algum helicóptero das forcas armadas o suspendeu para que a manobra impossível pudesse ser executada. Talvez, tenham destruído a calçada. Quem sabe?
Ah, o cadeirante. Como esquecer ???
Ficou lá. Simples assim. Até onde sei, ele ficou lá. Esquecido, tendo como único braço amigo, o vendedor de chocolate, que todos já sabem, é um grande marketeiro.
Agora, a pergunta: quem é o deficiente nesta história?
Foram uns bons dez chutes, somados. E nada da coisa levantar.
Ae o maluco partiu pra agressão mesmo. Pra grosseria. Mandou tudo pra porra. Grudou no apoio lateral e sacudiu, e urrou. A sirene de um lado e ele do outro: essa porra vai levantar, essa porra vai levantar. Os comparsas foram La e tentaram acalma-lo, mas nada poderia conter a fúria desse despachante. NADA. Nem o detetive.
O ônibus balançando feito cama de motel, a sirene louca incessante repetindo repetindo repetindo íon íon íon íon, a velha reclamando, 40 minutos passados, pipoca, carninha, coca um real, chocolate no cadeirante, homem de terno reclamando, hora passando.
A multidão que aguardava dentro do ônibus (EHHHHHHHHHHHHHHH esqueci de dizer, o ônibus estava cheio, a fila aguardava o próximo que já estava lá) resolveu tomar uma atitude depois de zunirem algumas palavras soltas pro mundo externo tão afoito pelo ambiente de montanha criado pelo super ar-condicionado, desceram, invadiram o ônibus de trás, que seria, por direito nosso e pronto, estava iniciada a revolução.
Era ela, descendo pelas tabelas, vestida de blusa amarela, com a minha cabeça já numa travessa e toda aquela galera puxando o cordão.
O pessoal da fila se irritou, bradou contra os revolucionários, que não deram a mínima pro clamor geral e entrou mesmo e apesar de tudo, invadiu geral.
Numericamente éramos mais. Mas eles tinham um fator importantíssimo a favor deles: estavam refrescados. Numa guerra urbana como esta, o fato “frescura e grau de relaxamento” é primordial.
Ficamos então parados, gritando urros surdos que só serviriam pra fazer as gotas de suor estacionadas na testa escorrer pro buço. Inúteis na nossa essência de voyeur. Os revolucionários tomaram a embaixada do nosso conforto.
Imediatamente, após ter sido devidamente lotado, o NOSSO ônibus partiu, deixando aquele gostinho de espera eterna e calor insuportável.
O lotação da rampa, levou mais uns dez minutos na tentativa de levantar a rampa sem quebra-la, com o continuo ininterrupto renitente som de sirene de policia falida, ate que por milagre ou bom senso, alguém resolveu desistir da idéia e desligou o maldito verme do caos público.
Não sei como isso foi resolvido porque depois de meia hora, chegou outro ônibus e foi nesse q eu fui. Devem ter posto fogo no veículo. Ou algum helicóptero das forcas armadas o suspendeu para que a manobra impossível pudesse ser executada. Talvez, tenham destruído a calçada. Quem sabe?
Ah, o cadeirante. Como esquecer ???
Ficou lá. Simples assim. Até onde sei, ele ficou lá. Esquecido, tendo como único braço amigo, o vendedor de chocolate, que todos já sabem, é um grande marketeiro.
Agora, a pergunta: quem é o deficiente nesta história?
4 comentários:
é rapaz.. doidera...
hahaha... ÓTIMA PERGUNTA! Bom desfecho (ou não! kaka).
O deficiente é este serviço SAFADO de transporte público.
Mas que, pelo menos, rendeu uma boa crônica.
Esse onibus é bom... pelo menos no calor que tem feito o ar funciona q é uma beleza. Gostei da forma como o texto foi escrito, bem escrito.
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