A aleatoriedade traz umas coisas interessantes, como papos alcoólicos pelas altas horas da madrugada. E, convenhamos, os papos alcoólicos muitas vezes são melhores que os sóbrios.
Foi num desses momentos aleatórios que a gente começou a conversar sobre formas de comportamento social, novas mídias como a Internet, que alteram nossos modos de pensar, agir, vestir, etc. São novos detalhes socio-culturais que merecem até um estudo mais profundo, quem sabe até uma tese, uma monografia, sei lá... Seria complexo e escasso de fontes de pesquisa, mas certamente interessante.
Esse papo de estudo permeia minha mente há tempos. Não que eu vá fazer algum tipo de aprofundamento, mas nada como noites assim pro assunto aflorar de verdade pra poder gerar uma Linfada.
Vivia comentando com meu amigo Paulo que o hoje antiquado fotolog, por exemplo, é uma dessas fontes de pesquisa comportamental da sociedade contemporânea pra lá de rica.
A princípio, o fotolog é um serviço que, na minha vida, existe desde 2003.
Até hoje eu me lembro quando fiz a minha primeira conta, em 21 de novembro de 2003, no laboratório da faculdade.
À época o fotolog podia ser feito a qualquer hora do dia (porque, quando o fotolog virou moda, o Brasil, campeão em novas contas, só podia criar novos perfis a partir de uma certa hora, geralmente após a meia noite) , e a faculdade ainda não tinha descoberto a opção de bloqueio.
Naquele fim de ano eu usava a alcunha de cynthia18 (...).
Em 2005 eu mudei e passei a usar a conta atual, sob o pseudônimo de torpida. A palavra vem do latim e quer dizer "entorpecido" e blá blá blá.
Mas o assunto principal é discutir um pouco as tendências fotológuicas e internéticas em geral e constatar que todos, mesmo sem perceber, somos reféns delas.
É só olhar em qualquer histórico que você vê as tendências e em como essas modinhas influenciam na vida comportamental do ser humando pós-moderno que mantêm essas páginas: desde a mudança do nick até a estética da coisa toda.
Certos grupos sociais começaram a tomar uma postura mais séria, mais adulta, mais artística, visual e, dando razão ao Puppet, com uma estética mais, err, indie.
Prefiro não colocar os links de amigos e pessoas próximas aqui, por isso parto para um arquivo mais, digamos, público.
Uma análise que chega a ser engraçadíssima é olhar arquivos dos fotologs de algumas bandas:
- Olha o NX Zero em 2004, quando o Di (o vocalista) e outros da formação atual nem faziam parte da banda ainda.
- Agora olha a banda em 2008, com seus alargadores, tatuagens e sem os bonés
Preparados para ver o Fresno?
Antes
Depois
Ok, isso envolve toda uma produção artística por trás das bandas, grana etc. E, aplicando a análise a seres comuns como nós não há nada de tão anormal, até porque mudanças acontecem. Ainda bem que eu não sou a mesma adolescente do segundo grau, com minhas insistentes camisetas e calças largas e meu cabelo alisado (...).
Mudar é bom, é necessário e a vida faz com que isso aconteça naturalmente. E as mudanças também se dão de acordo com as influências que vamos recebendo. Tudo e todos são condicionados por algo, e influenciados por um determinado tipo de som, por algum ídolo da música, da poesia, do cinema, por alguma leitura que vai te moldando, mudando teus pensamentos etc. E é claro que isso vai refletir no teu comportamento, no teu pensamento, na roupa que tu veste etc. Isso é uma constatação secular, mas se tornou muito mais absurdamente ágil com a Internet .
O que mais legal de observar nas mudanças das bandas, por exemplo, é que elas agem no público com caráter ainda em construção justamente da forma como coloquei acima: vão arrastando um bando de adolescentes, público alvo principal, para o mesmo caminho em tudo: no som que ouvem, nas roupas que vestem, nas gírias que usam, etc.
E por favor não encarem a palavra "arrastar" de forma ruim. Como disse, todos nós, em vários momentos, somos arrastados por diversas influências que nos rodeiam.
O que eu percebo atualmente é que, diferente do meu tempo de adolescente, tudo circula nesse ambiente abstrato que é o virtual. E com uma quantidade muito mais massante de imagens que no meu tempo, num ambiente onde cada um faz a própria imagem, faz propaganda de si mesmo, e acaba por se tornar influência para outros. Isso gente pode medir com exemplos infinitos da Internet.
Um deles é a Marimoon, atualmente VJ da MTV.
Me lembro quando, em 2003, início do boom do fotolog, ela era a completa novidade assumindo um gosto exótico e criativo por roupas, cabelos coloridíssimos (variando entre azul, rosa, verde) e uma ode ao ego como muitos não estavam acostumados a ver. Olhando os arquivos ela própria sofreu grandes mudanças.
O fotolog serviu para medir a popularidade da Marimoon e de muitos outros que se tornaram populares por causa desse diário fotográfico.
Marimoon, aliás, se tornou VJ da MTV depois do apelo dos teens por verem a musa fotológuica na TV.
E falando de tudo isso, tocando no assunto do virtual, não posso deixar de fora aquele que é o grande sucesso no Brasil: o Orkut.
Durante esse papo alcoólico que citei no começo do texto, perguntei a esse meu amigo que não o tinha visto mais no orkut e perguntei o porquê. Ele disse que havia se irritado e deletou seu perfil, cometendo o tão comum orkuticídio.
Eu sempre fui meio metida a psicanalizar as pessoas e seus comportamentos, e nessas minhas observações eu cheguei à conclusão que, atualmente, o Orkut é o grande reflexo do que o ser humano é virtualmente falando e também do que um indivíduo quer que as pessoas achem dele.
O perfil do orkut passou a não ser somente um campo virtual, ele é a extensão da vida real de um sujeito.
Para algumas pessoas, tudo está ali: fotos dos melhores momentos da vida, sua melhor pose, os recados dos amigos e namorados, os gostos, a música preferida etc. São pessoas que levam o orkut a sério, mudam o status quando estão namorando, enfim, deixam a vida está ali, exposta para quem quiser ver.
E para alguns, quando algo não vai bem na vida real, a primeira medida é acabar com tudo de uma vez, cometer suicídio mesmo. Como falta coragem para dar cabo à própria vida, tudo que resta é apertar o delete e esperar que o servidor do Google, calma e lentamente, acabe com tudo que você gostaria que tivesse fim em meio à uma crise: o ex-namorado, a amiga falsa, as pessoas que você não quer ver tão cedo, enfim, acabar com o reflexo de uma realidade que você não pode sequer mudar.
E o virtual ainda te dá uma chance que a vida real não possibilita, pelo menos não ainda: a chance de ressuscitar, recomeçar a vida (pelo menos virtual) do zero, sem os amigos e sem a vida indesejável de outrora.
No fim da minha "análise", meu amigo abaixou a cabeça, rindo e concordando que o fim do seu perfil teve tudo a ver com a vontade de dar fim a várias coisas à sua volta.
E não só ele concordou, mas também uma outra amiga que tinha acabado de apontar uma arma para a cabeça da sua vida virtual naquela mesma semana.
Agora além do orkut a nova moda são os pios do Twitter. Até eu, a contragosto, fiz um essa semana. Fiz pra participar de uma promoção que até agora não deu resultado, mas enfim, isso não vem ao caso.
É engraçado que, com dois dias de conta, eu me pego pensando em coisas comuns como: "Cara, eu preciso dormir " ou "Acabei de ser atacada por uma barata voadora!". E, droga, já penso nisso em forma de postagem twitteira! Que medo de mim mesma!
Fico imaginando que todas as pessoas pensam assim em relação ao Twitter e querem desesperadamente avisar a todos o que estão fazendo, para aonde estão indo etc.
Vejo amigos twittando de festas, pelas altas horas da madrugada, pra dizer sabe Deus pra quem que "tal festa está MARA". Pra mim é doença. =D
Eu, chata, classifico o twitter como o cúmulo da exposição. Eu sempre fui contra ter um justamente por não me sentir importante e / ou interessante o suficiente para ficar contando às pessoas o que estou fazendo e pra onde estou indo.
Na minha cabeça dura que não se rende fácil às novidades, o Twitter funciona muito mais pra artistas, famosos, escritores e pessoas geniais que tenham conteúdo a oferecer. Tipo o Belo. Brinks. Reformulando então: que tenham conteúdo e /ou muitos fãs, tipo o Belo. É, melhor assim.
Não critico o Twitter nem nenhuma ferramenta de Internet. Todos acabamos sendo reféns delas em algum momento. Eu por exemplo sou viciada em e-mail.
6 comentários:
Esse é o dilema do homem pós-alguma coisa. Um termo que algum teórico ainda vai cunhar.
Melhor que tentar desvendar, por enquanto, é aproveitar.
cynthia, sua prolixa.
amanhã eu leio.
Cyn, vc começou sua tese explicando o meio (arqueólogos do futuro), depois o fim (sobre o granfinale do antes e depois) e o começo (os instintos de cada um)!
Oh, céus! Impresso já!!! Só de ver o tamanho lembrei de "A Pedra do Reino"!
Sempre acreditei nas redes sociais como espelhos da vida, mas não espelhos que refletem exatamente o que a gente é. Imagino espelhos quebrados, em caquinhos, que refletem só alguns pedaços da vida. Ali estamos nós, expostos exatamente como a gente quer e imagina ser, sem as ludibriações do destino.
No caso so twitter é a mesma coisa, mas o que mais está em jogo é o AUTO-IBOPE. Essa é a sociedade do espetáculo, lembra? Mas uma coisa é um/uma joão/maria ninguém postar que comeu um sanduíche de mortadela e outra é uma pessoa "famosa" explanar isso. É a pura exaltação de coisas banais para se sentir mais...importante. Claro que estou falando isso apenas sobre as pessoas que usam a ferramenta para falar do que está fazendo a cada segundo, já que o TW tem N serventias e usos que variam com o grau de criatividade e talento de cada um ;-).
O engraçado é que ainda estamos na infância dessa tal internet. Ainda nem temos ideia sobre o que essa revolução informativo-teconológica ainda haverá de nos proporcionar. Youtube, twitter, orkut e caralivros da vida são apenas a ponta do iceberg que está para vir em termos de exposição do "cero mano".
Sim, tenha medo. Tenha MUITO medo.
Li tudo. ótimo texto. bem claro. queria comentar vários ponto.. já pensei tanto sobre essas coisas... mas deixa pra lá. Eu com certeza sou uma vitima dessa "nova" sociedademidiatica. E muita coisa se tornou um vicio pra mim. De maneira que vivo criticando varias coisas das quais faço parte e não ponho fora delas, ou fazendo exatamente igual ao criticado e por isso me autocriticando o q acaba sendo um tanto ridiculo. mas...
enfim! To com vcs MEDO!E o processo tá cada vez mais acelerado
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Já quis deletar a porra toda tb.. nesse mesmo esquema como foi descrito. e dae pensei.. que porra, isso não adianta nada.. e provavelmente eu teria dois problemas.. o de deletar e fazer outro mais na frente.. afinal não consegueria ficar fora disso por tanto tempo a não ser que não tivesse mais acesso.. dae vi que o "problema" estava em não dá tanta importancia ... porque é virtual... e por mais que PAREÇA ser minha vida e de fato faça parte dela... é algo que apenas parece.. enfim.. ainda to descobrindo uma forma de lidar com tudo isso sem que seja nocivo e me deixe tragar pelo lado "negativo" e encontre uma maneira melhor de lidar com isso.. o pior de tudo é que ainda quando "out" do mundo virtual, acaba se trazendo para si todo o comportamento e influencia do meio. Tento ficar mais atenta possivel a isso.
adorei o post! foi mal o desabafo pessoal.. ta vendo.. rs
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