Os Sonhos não envelhecem

No dia 10 de agosto, pra compensar meu sumiço, eu tentei escrever sobre um livro que tinha acabado de ler e que me consumiu da melhor forma que um livro pode fazer com alguém.
Só que fui surpreendida por uma falta de pagamento da internet que está incrivelmente durando até hoje.

Como a internet ainda não voltou, tive que dar meu jeito e tentar nos velhos moldes de internet discada...
E lá vamos nós, continuando de onde parei:
Como eu dizia em 10 de agosto, pra compensar o meu sumiço, trago uma dica de leitura que me deixou reclusa e completamente apaixonada nos últimos dias.
O livro? Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina. O autor? Márcio Borges, irmão de Lô Borges, amigo de Milton Nascimento e um dos compositores mais parceiros e presentes na vida e carreira de Milton.

Sob um olhar muito particular, Márcio Borges faz um panorama sobre sua vida, a vida de sua família, a vida de seus onze irmãos, mas com foco principal em Milton Nascimento, que Márcio faz questão de desnudar sob o apelido de Bituca.

O livro conta histórias do Clube da Esquina, e não só história da simples esquina de Minas Gerais onde músicos da época simplesmente se sentavam no meio fio para compor melodias, letras, tomar umas; mas também do surgimento e consolidação de nomes até então conhecidos somente nas paredes das sessions que aconteciam dentro do apartamento da família Borges.

Mesmo se você não gosta de Clube, de Milton, mas se interessa por música, e não só por música, pela história de um Brasil que não existe mais, é uma leitura rica e emocionante.

Se você for nostálgico e saudosista como eu, melhor ainda.

Nas quase 400 páginas é possível "relembrar" os primeiros passos de Milton Nascimento na música; os primeiros Festivais da Canção no Brasil; o nascimento de cantores até então
desconhecidos como Elis, Gonzaguinha, Paulinho da Viola...
O nascimento de letras e músicas que hoje em dia o mundo conhece como Trem Azul, A Sede do Peixe, Travessia e tantas outras.
Os sonhos vai te fazer passear pela casa dos Borges numa das tardes em que dona Maricota, mãe de Márcio e Lô, abria suas portas para que passeasse por ali Wagner Tiso, o ainda criança Beto Guedes com sua banda cover de Beatles, Fernando Brant, Ronaldo Bastos...

O livro dá nó na garganta quando passeia rapidamente por dias que você sabe que dividiram o mundo dois, em antes e depois, mas que você não estava lá. As crises e a morte de Elis, a morte de John Lennon, o fim dos Beatles...
Vai te fazer sentir falta de algo que não é seu, mas que ao mesmo tempo é.
Vai deixar cair lágrimas por uma amizade que não foi sua, mas que ao mesmo tempo é, porque ficou de herança nas letras de Márcio, na música de Milton, na música do Clube.

É uma história de amizade, de um companheirismo de mais de 30 anos que até quem não participou sente que estava lá no momento que o livro dos sonhos é aberto.

fernando brant, milton nascimento e lô borges

Desculpem pelo post pessoal demais.
Me despeço, sob lágrimas de saudades, com uma das mais belas e conhecidas canções do Clube.

Como diz a história, Milton e Lô, quando compuseram Clube da Esquina nº 2, não queriam que a música tivesse letra.
Anos depois, a pedido de Nana Caymi, Márcio Borges colocou letra em Clube da Esquina nº2 e resultou na música sem comentários que todos conhecem: