Desde tal dia eu tento expressar em palavras faladas, palavras escritas ou qualquer forma de comunicação que seja o que eu e cerca de 50 mil pessoas sentiram no final de semana que passou.
É incrível o que a música é capaz de fazer com você. Em vários momentos me lembrei do tempo que frequentava a igreja e me senti de verdade em um culto, com as mãos levantadas, os olhos fechados, o canto com emoção e choro.
E por falar em culto, aqueles deuses ouviram as orações que eu fazia desde dezembro e tocaram uma das minhas preferidas, que não costuma entrar no set da turnê atual: "How To Disappear Completely".
Aquela que soa como uma prece baixinha e que parece que a qualquer momento, ao abrir os olhos, você vai realmente estar longe de tudo, atravessando as paredes, flutuando, desaparecido...
Vou confessar que não me segurei e chorei. Chorei mesmo, feito criança enquanto pedia aos céus "rain down, rain down, come on rain down on me..." e também quando entoei que "she run, run, run, ruuuuun..." E abraçei meus amigos e quase explodimos de felicidade ao saber que estávamos lá. Mais uma vez juntos, num momento que une a gente pra sempre: a música. A música do Radiohead.
Duas frases que eu li acrescentam um pouco à essa falta generalizada de adjetivos pra descrever o que foram as mais de duas horas de Radiohead nos dias 20 e 22:
1ª - para barrar esse show agora, só ressuscitando o Hendrix, os dois Beatles e botando todos para tocar no mesmo dia.
2ª - você sabe que o show foi bom quando nos dias seguintes você só consegue ouvir aquela banda.
Deixo com vocês um texto pra lá de emocionado de alguém que conseguiu de fato escrever sobre o show, meu amigo e um dos maiores influenciados por Thom e Cia, Leandro Valente.
Enquanto isso eu continuo na busca: E agora, o que a gente faz, Thom?
I´m not here, this isn´t happening
Há algum tempo eu escrevi um post com uma resenha sobre o In Rainbows, no qual eu dizia que "Uma viagem a um lugar mágico onde a chuva dá o tom da ambiência, onde a felicidade é relativa, onde a música é relativa, onde a venda é relativa". Bom, acho que meu tour por In Rainbows se encerrou no último dia 20 de março de 2009 , na Praça da Apoteose, Rio de Janeiro.
Não vou me demorar falando sobre o show, na minha opinião, burocrático porém emocionante do Los Hermanos, nem do maravilhoso espetáculo audio-visual do Kraftwerk para não perder o foco ,acredito, de 87% das pessoas que estavam lá: o grande show da noite. Radiohead.
DJ tocando Reggae, toda aquela tensão no ar. Eu não acreditava até o último segundo. Quando os aplausos explodiram e ouvi as batidas que anunciavam 15 steps. Era verdade. E eu estava lá. As danças frenéticas de Thom, os pulos descompassados de Colln, a esquisitice suave de Jonny, a felicidade incontida de Ed e a precisão séria e britânica de Phil. Tudo lá, com suas luzes, suas câmeras de palco, seus aparelhos eletrodomésticos que produzem som... Parecia que eu estava em frente à minha televisão assistindo a apresentação deles em St. Barbara, ou no Japão, todos os lugares, menos no Brasil.
Airbag, com seus riffs absurdos, rasgaram a membrana da dúvida. Realmente não era um sonho. O que foi impressionante foi a fúria das guitarras e o sorriso de Ed’Obrian que parecia realizar um sonho tanto quanto quem estava na platéia. Ao fim das músicas os tambores colocados ao lado do palco já anunciavam que viria mais um momento único. Aliás, esse show por si só, já era um momento único, pautado por pequenos sonhos. There There e sua sombria harmonia invadiram nossos ouvidos como uma flauta indiana a cobras que balançavam ao som das batidas e das guitarras.
Fôlego... fôlego... All I need. Uma das músicas que eu considero mais bonitas do In Rainbows. Com o clima das luzes terminou o processo de hipnose iniciado em There There. Éramos agora, na Praça da Apoteose, uma massa uniforme de notas, sinos, paixões e lágrimas.
Thom pega um violão e todos pensam “o que virá agora?!” e para surpresa de todos, Karma Police pôde ser ouvida de forma clara em suas primeiras notas para delírio dos fãs. Nesse ponto, uma nota: no término da música, quando todos extasiados batiam palmas, comecei a cantar o refrão final. A comoção tomou os que estavam em volta e logo toda a apoteose estava cantando o refrão final, o suficiente para Thom voltar e cantar conosco. Perfeito! Principalmente pra mim que iniciei aquilo.
Nude e seu baixo marcado nos tirou do chão e em seguida Weird Fishes nos sacudiu no ar num espetáculo não só sonoro, mas de luz também. Quando todos tentavam se recuperar, um rádio sintonizado em alguma estação evangélica anunciava o que estaria por vir: The National Anthem e suas sirenes vermelhas abalam as estruturas do palco do samba com tensão e ritmo. Logo depois a música que eu esperava ouvir desde a tour do disco Hail to the thief:The Gloaming, dançante, eletrônica, viva. Thom e seus trejeitos... suas danças... um sonho!
Faust Arp, linda como sempre, irrompeu do meio do palco por Thom e Jonny com seus violões magicamente perfeitos. E sem surpresas, após essa beleza de balada, No Surprises. Outra balada pra acalmar os corações mais furiosos por pular. Mas esses não imaginavam que logo após esse momento de pausa e braços para o alto viria Jigsaw Falling into Place.
Pra pular, cantar junto. Emendada com Idioteque fizeram o trecho mais dançante do show.
Quando eu já me preparava para deixar de acreditar em outros deuses e reverenciar o Radiohead como o show mais perfeito que eu assisti, uma pedrada me deixou atordoado. I Might Be Wrong... eu não acreditei! Uma das minhas preferidas. Amnesiac. O disco que eu mais gosto do Radiohead.
Depois desse momento não havia sanidade que se recuperasse. Thom pega seu violão e toca os primeiros acordes de Street Spirit (Fade Out) e a certeza de que não há mais nada além daquele momento no mundo me assola. Nem os acordes furiosos de Bodysnatchers são capazes de me atentar que existe matéria além das fronteiras do som do Radiohead.
How to Disappear Completely fecharam a primeira parte do show com maestria. Poderíamos todos termos ido embora naquele momento. Já teria sido o show mais maravilhoso aportado no Brasil nos últimos anos. Mas queríamos mais, e eles nos deram mais.
O primeiro bis começa com o piano no meio do palco e os primeiros acordes de Videotape dão a impressão que não haveria como o show ficar melhor. Mas havia como. E eles sabiam como. Paranoid Android foi a resposta a quem acreditava que existe um máximo para a beleza de um show. "Rain down" cantado por 24 mil vozes, show de luzes... sem palavras.
House of cards fez sala para que pudéssemos olhar pro lado e dizer “cara, o que eles estão fazendo? Eu vou morrer aqui! Ninguém pode ser tão feliz”. Mas pode sim. E o Thom provou isso ao puxar os primeiros acordes de Just. Nova onda de insanidade no Rio de Janeiro que só terminou ao fim dos últimos samples em Everything in it´s right place. Bom. Agora acabou! Eles sempre terminam com Everything. Acabou agora né?! NÉ?!
Não! Piano no meio do palco. Anúncio “Esta é por todas as vezes que a América do Norte tentou fuder com vocês” e (!!!!!) You and Whose Army(!!!!). Eles leram meu pensamento?! Depois disso eu esperava qualquer coisa. Queria que acabasse o mundo. Porque não haveria felicidade maior. Reckoner me fez pensar em como eu viveria depois daquilo. E para finalizar, como eles não poderiam deixar de nos fazer chorar, Creep invadiu nossos ouvidos de forma inesperada e extremamente emocionante, com sua brancura e simplicidade violenta. Um grito para todos que estavam ali, um pedido de ajuda, uma mão amiga, tudo!
Luzes apagadas, agradecimentos, e estava findada a saga. Saí do show com a certeza de que em nenhum lugar do mundo, naquele momento, haveria alguém tão feliz quanto eu. E a certeza de que demoraria muito tempo para que eu fosse feliz novamente. Talvez com uma nova vinda do U2 ao Brasil, quem sabe. Quem sabe ao menos dessa vez eu consigo assistir um show deles.
Eu não acreditava mais no Radiohead por aqui e aconteceu. Aconteceu! Isso tudo que eu relatei. Queria que o tempo parasse. Queria desaparecer completamente e nunca mais ser achado após o show, ou ao menos ter dinheiro para acompanhá-los por toda a tour sul americana. Pela Europa, pelo mundo.
Ainda ecoa por meus ouvidos o som, ainda ouço de longe... everything... in it´s right place...
Mais de Leandro em: http://leanvalente.blogspot.com/
5 comentários:
o que aconteceu com todo mundo? que a gente ta com a cabeça na terra e os pés pra fora com as asas se debatendo
eu sentei, antes do show do kraftwerk e falei: "cara... isso ta acontecendo mesmo?" acho q é esse o sentimento agora.
Foda,
eu também estava lá, o show mais aguardado da minha vida!
Só não digo que foi perfeito pois faltou a minha preferida: Fake Plastic Trees, e a mesma tocou em São Paulo.
Você notou em alguns momentos a cara de felicidade do Thom?
Weird Fishes/Arpeggi foi melhor do que eu esperava, sensacional.
Espero que eles voltem em alguns poucos anos.
http://devaneiosdeumamenteconturbada.blogspot.com
na verdade do dj tocando reggae era o johnny greenwood tocando dub, que ele adora rs
foda pacarai, show histórico, momento único na vida. nada mais a declarar sobre o radiohead.
chorei baldes também, cyn.
Vocês são indies demais...
(Mentira. É recalque meu por não ter ido)
Ótima postagem. Permaneça sucessando e não faça cherrión do blog.
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