A verdadeira lenda do Escorpião

Depois do vacilo do primeiro casal de homo sapiens, o Moldador Celeste decidiu que todo animal peçonhento da Terra haveria de ser vigiado. Uma nova criação teria a guarda destes seres perigosos e, caso a vigilância destes falhasse, eles receberiam a danação eterna. Estas novas criaturas teriam a forma e a beleza de um anjo, mas, para gerarem temor e respeito nos pequenos seres, teriam milhares de tentáculos no lugar de asas.

E este ser se chamou Corpião.

Com esta criação, o mundo se tornou um lugar bem menos hostil. Até a mais venenosa das serpentes e o mais peçonhento inseto dividiam o mesmo espaço com os recém-nascidos. Porém, esta situação gerou incômodo no baixo clero dos querubins, pois eles sentiam profunda inveja dos Corpiões.

Um dia, um destes teve a idéia de seguir um dos Corpiões, o mais forte deles, para saber quais seriam as fraquezas desta raça. Percebeu que ele havia se apaixonado cegamente por uma mortal e que a visitava todos os dias em sua casa.

Aí estaria a fraqueza deste ser: o coração e a libido pulsam no mesmo ritmo.

O jovem querubim sequestrou a jovem e, ameaçando matar a sua família, fez com que ela falasse para o Moldador que o Corpião a havia violentado. O Corpião foi chamado pelo Moldador para falar sobre o assunto e, temendo pela vida da sua amada, assumiu toda a falsa culpa.

Então o Moldador Celeste disse, em fúria:

"Perante tal felonia lhe digo que, daqui em diante, a sua linhagem estará condenada a viver junto daqueles que deveria prestar vigilância. A sua estatura e aparência será como a do menor dos escaravelhos fuciladores de esterco e os seus tentáculos serão unidos em apenas uma cauda dotada de um ferrão venenoso. Mesmo sendo minúsculo, serás temido por toda criatura vivente e ser algum neste mundo poderá lhe atribuir um nome. Serás reconhecido apenas como aquele que falhou no cumprimento de seu dever. Serás conhecido como uma ex-criatura divina. Serás conhecido como um ex-corpião."

É por isso que se diz que toda pessoa deste signo possue a graça de saber exatamente aquilo que realmente é, a maldição de se escravizar pelos seus princípios, o discernimento de saber o que realmente quer e a loucura de entregar a vida por um amor idealizado.