Inacreditavelmente existiu uma época em que, independente da discriminação existente em que toda aquela pessoa de pele mais escura era vista como um suspeito em potencial (mudou-se alguma coisa?), o homem da lei, aquele de revólver reluzente ensebado na cintura e impecavelmente uniformizado nas praças e esquinas, era visto como um exemplo de proteção e competência. Os mais velhos e infantos paravam para cumprimentá-lo na rua, tendo em vista o seu simbolismo de conduta e caráter exemplares, independente de sua simpatia. Ter um familiar da polícia era sinônimo de prestígio e garantia de respeito inclusive para os menos virtuosos que se utilizavam disso para conseguir as pequenas regalias do cotidiano, como a liberalização de blitzes que já virou lugar-comum para os playboys de plantão.
Anos e anos de sucateamento estatal, da conivência com a retalhação social da cidade, da falta de preparo dos agentes e de corrosão moral feita por essa corja assassina que se instaurou na instituição fizeram com que a figura do policial se tornasse mais temerosa que a do bandido pé-rapado que anda pelas comunidades de chinelos e AR-15 à tiracolo. O homem da lei causa medo, apesar da maioria de seus agentes não serem estes mercenários de farda que andam pela cidade para arrancar trocados de viciados e motoristas irregulares a fim de completar um salário de fome.
A política policial do "atirar para depois perguntar" ganhou amplo apoio da população carioca, sobretudo da classe média, depois que a violência urbana veio bater na sua porta. Esta mesma sociedade partidária da dobradinha Bolsonaro-e-Sivuca que acredita que o país só irá para a frente quando todos os pobres e pardos (sinônimos, para estes) forem sumariamente dinamitados dentro de suas favelas não pareceu notar que foi exatamente esta política que faz com que militares se portem como capangas de traficantes e entreguem jovens para a morte, PMs sejam capazes de metralhar um carro de família em plena via pública e acabarem assassinando uma criança de 3 anos de idade e muitos outros casos envolvendo erros crassos e desvirtuamento dos homens da lei e que recheiam os noticiários todos os dias.
A figura do "guarda legal" cedeu espaço para a do guarda ilegal, o qual, do assaltante viciado que comete latrocínio, do traficante que manda matar com o estalar de um dedo e dos criminosos de colarinho branco que surrupiam grana pública e matam milhares indiretamente, só se diferencia mesmo é pelo distintivo que jamais deveria ter recebido.
Imagens: Banksy e Latuff, respectivamente.
Anos e anos de sucateamento estatal, da conivência com a retalhação social da cidade, da falta de preparo dos agentes e de corrosão moral feita por essa corja assassina que se instaurou na instituição fizeram com que a figura do policial se tornasse mais temerosa que a do bandido pé-rapado que anda pelas comunidades de chinelos e AR-15 à tiracolo. O homem da lei causa medo, apesar da maioria de seus agentes não serem estes mercenários de farda que andam pela cidade para arrancar trocados de viciados e motoristas irregulares a fim de completar um salário de fome.
A política policial do "atirar para depois perguntar" ganhou amplo apoio da população carioca, sobretudo da classe média, depois que a violência urbana veio bater na sua porta. Esta mesma sociedade partidária da dobradinha Bolsonaro-e-Sivuca que acredita que o país só irá para a frente quando todos os pobres e pardos (sinônimos, para estes) forem sumariamente dinamitados dentro de suas favelas não pareceu notar que foi exatamente esta política que faz com que militares se portem como capangas de traficantes e entreguem jovens para a morte, PMs sejam capazes de metralhar um carro de família em plena via pública e acabarem assassinando uma criança de 3 anos de idade e muitos outros casos envolvendo erros crassos e desvirtuamento dos homens da lei e que recheiam os noticiários todos os dias.
A figura do "guarda legal" cedeu espaço para a do guarda ilegal, o qual, do assaltante viciado que comete latrocínio, do traficante que manda matar com o estalar de um dedo e dos criminosos de colarinho branco que surrupiam grana pública e matam milhares indiretamente, só se diferencia mesmo é pelo distintivo que jamais deveria ter recebido.
Imagens: Banksy e Latuff, respectivamente.
6 comentários:
É, anda complicado. Os bandidos não temem a lei, então qualquer atitude ilegal é, no mínimo, esperada. Mas um policial? Ir contra a própria sociedade que defende, atirando sem pensar, roubando descaradamente, trocando figurinhas com bandidos? Isso é inaceitável. Inaceitável, e, ainda assim, acontece aos montes. Certas coisas só existem na nossa sociedade porque as autoridades fazem vista grossa, ou porque é mais fácil não interferir, ou porque estão lucrando com isso. Resumindo: estamos num Deus-dará total.
Gilberto,
O policial, formado com intuito de defender a população, vai contra ela e além disso, impõe medo, ao invés de respeito.
Os baixos soldos não justificam barbáries, nem negociações com bandidos. É claro que nem todo policial é corruptível, mas os "guardas ilegais" estão se tornando comuns entre as oficialidades.
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http://semfronteirasnaweb.blogspot.com
Gostei de receber sua visita na madrugada. Ando tão afastada dos blogs, até do meu!
Muito bom texto Gilberto!
Uma tristeza essa situação, mas talvez estejamos chegando no limite...não?
Beijos!
Agora que notei a alusão do desenho do Latuff com a Pietá de Michelângelo:
http://www.jsmatt.com/picture/pieta_michelangelo-lg.jpg
Antes de mais nada, texto muito bom!
Não poder confiar na polícia e pior, ter medo da polícia, é uma situação inconcebível! Ela deve ser por nós e não contra nós!
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