Poucos sabem, mas eu sou uma colecionadora de videoclipes. E apaixonada por eles. Porém, essa arte pouco valorizada pelos cineastas hoje em dia, já o foi lá pelos anos 70-80, como forma de arte. Com a entrada da MTV a coisa se tornou um tanto "industrial" e em um formato enlatado - mas a graça é lembrar dos videoastas/cineastas que fazem do videoclipe um exercício e tanto de arte audiovisual.
Quis escrever esse post hoje pois acabei de ver o videoclipe novo do Justice. E me fez pensar.
Vamos por partes.
Vamos por partes.
O primeiro videoclipe que passou na MTV se chama "The video killed the radio stars" da banda Buggles em 1979. Ok! O nome da música já diz tudo. Não é só uma transformação, é A transição. O som perdia a batalha, a MTV entrava no ar com suas vinhetas coloridas e a new wave explodia. Tudo era tão mais estimulante e colorido, não é mesmo minha gente?
O Justice, por sua vez, anos e anos depois do vídeo assassinar as estrelas do rádio, disse: Tudo bem, estamos na era do YouTube, de vídeos serem vistos por milhões ao mesmo tempo, do OkGo! conquistar fãs por seu vídeo de dança na esteira (é, eu sei que você lembra dele), e então tomaram para eles (não que a tenham fabricado) o título que representa a nossa realidade, a troca audiovisual youtubista de cada dia:
"The Internet killed the video stars".
Oh não. Parece que depois de tudo a MTV perdeu a batalha. Depois de Michael Jackson e de seus videoclipes cinematográficos, Madonna e suas fases, as boy bands dos anos 90 e tudo que se chama de pop, de "geração mtv" (detesto esse termo, mas cai bem aqui), a televisão perdeu?
Estamos diante é de uma segunda transição. Do vídeo para a internet e sua mobilidade, rapidez e multiplicidade de informações.
Estamos diante é de uma segunda transição. Do vídeo para a internet e sua mobilidade, rapidez e multiplicidade de informações.
Muita gente viu o videoclipe do Justice para "D.A.N.C.E". É, o das camisas! E se você não percebeu, aparece em uma delas a tal frase-danação televisiva. Vê aí.
E agora, o Justice vem com mais uma. É o vídeo da música "Stress".
Para mim, parece uma outra transição. Mas não de mídia, e sim de narrativa.
Muita gente acusou o vídeo de "anti-cristão". Então Kubrick o era em 1971 com "Laranja Mecânica"? É o retrato de uma juventude? Pode ser. Mas o que importa é que no vídeo de "Stress" a música fica em segundo plano, colocando o espectador em choque com a gangue pré-adolescente fazendo zueira pelas ruas, com seus casacos "cristãos" (e a cruz é o símbolo que o Justice utiliza) e atingindo a sociedade, do clipe, e de casa (ora, eles cuspiram na sua cara).
Será que o novo videoclipe do Justice é uma porta para o videoclipe-documentário? Ou o documentário-videoclipe?
O que eu gosto de lembrar é da tentativa dos artistas novos (e muitos dos antigos também - como a Madonna que fez um pocket show do álbum novo no YouTube) em incluirem em novas mídias não só frases de impacto como a "morte do vídeo", mas realmente fazer isso acontecer, assassinando não só a importância de colocar um videoclipe no Top 10 da MTV, mas formatar uma nova forma de arte. O do videoclipe sem a sua principal função: sonora.
(Acho que vou abrir uma nova coluna na Linfa: Crítica de videoclipes. Dêem sugestões ;))
Para mim, parece uma outra transição. Mas não de mídia, e sim de narrativa.
Muita gente acusou o vídeo de "anti-cristão". Então Kubrick o era em 1971 com "Laranja Mecânica"? É o retrato de uma juventude? Pode ser. Mas o que importa é que no vídeo de "Stress" a música fica em segundo plano, colocando o espectador em choque com a gangue pré-adolescente fazendo zueira pelas ruas, com seus casacos "cristãos" (e a cruz é o símbolo que o Justice utiliza) e atingindo a sociedade, do clipe, e de casa (ora, eles cuspiram na sua cara).
Será que o novo videoclipe do Justice é uma porta para o videoclipe-documentário? Ou o documentário-videoclipe?
O que eu gosto de lembrar é da tentativa dos artistas novos (e muitos dos antigos também - como a Madonna que fez um pocket show do álbum novo no YouTube) em incluirem em novas mídias não só frases de impacto como a "morte do vídeo", mas realmente fazer isso acontecer, assassinando não só a importância de colocar um videoclipe no Top 10 da MTV, mas formatar uma nova forma de arte. O do videoclipe sem a sua principal função: sonora.
(Acho que vou abrir uma nova coluna na Linfa: Crítica de videoclipes. Dêem sugestões ;))
4 comentários:
Em primeiro lugar: Post muito bom!
Em segundo: Considerações sobre o clipe -> a) Muito bom e realístico, um mix de GTA, The Warriors e Laranja Mecânica [como vc já disse]; b) Adorei a metalinguagem, quando toca D.A.N.C.E. no rádio (heh!)/Seria também uma crítica anti-sucessos?; c) Dá vontade de bater nas personagens do clipe.
ULTRAVIOLENCE total. Praticamente os droogs do século 21. Este é um dos bons exemplos da era do videoclipe "tapa-na-cara", como os do Rage Against The Machine, o qual um deles o cineasta Michael Moore dirigiu ("Sleep Now In The Fire", veja é é MUITO BOM) e "Evolution" do Pearl Jam. São músicas e clipes que se misturam com o ativismo.
Mas será que a mensagem deles é passada da forma certa, sem confundir Crítica e Ativismo com Apologia e Polemização? Lembremos que o MV Bill teve problemas com "Soldado do Morro", aonde ele aparece interagindo com traficantes locais. Eis uma bela discussão.
ps1: relação música X crítica, eis um bela pauta para uma postagem futura.
ps2: ótima postagem.
esse clipe de D.A.N.C.E fez um monte de marmanjos como eu pararem o que estavam fazendo pra ficar de boca aberta diante desse vídeo. é incrivelmente sensacional!
e o mais legal é ter visto esse post, que deu uma super margem à análises.
você chamou a atenção para incrível forma de como ele é extremamente cheio de simbologias e mensagens subjetivas.
"The Internet killed the video stars"!
com o perdão do palavrão, mas porra, isso é genial!
e logo depois aparece uma cruz para, em seguida, virem símbolos representativos do que seria a nova era, como os triângulos, etc.
e Quérol, você é a nossa cineasta. a mulher do vídeo tem total liberdade pra falar de tudo o que quiser. ;)
siga com as critícas!
Um dos méritos do videoclipe é a possibilidade de extrapolar a linguagem sonora e sugerir leituras possíveis à música. Espero que isto não acabe. Com bandas como o Justice este formato ganha oxigenio.
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