chegou do lado do banquinho verde e falou ríspido:
sou reticente... falo ... e logo... deixo no ar...
mas, quem é você ?
uma pessoa.. que quer ... desabafar ... só isso.
pois fale, mas seja breve. aguardo uma pessoa. já está por vir. luciana é seu nome.
meu nome? vai ... me chamar assim? (...) não ... meu nome não é "..."
não. o dela. da pessoa. que espero.
pois bem,.começou nesses bate-papos. internet. no trabalho, à tarde, sem ter o q fazer ... conheci as reticências e seu ... poder. me apeguei de imediato. me apeguei até mais a elas do que às pessoas ... q conheci. no primeiro mês, desenhava em folhas com impressões erradas, no verso ... era um ... passatempo... aqueles três ... pontinhos. mas ainda eram frases longas.
ahn?
as pessoas começaram a desconfiar...estava deixando muitos indícios da minha mania ... meu vício cresceu, enfim ... continuava no bate-papo, e se prolongou na vida real. em qualquer lugar que eu via um espaço em branco tascava logo uma reticência... virou ... minha ... assinatura. pessoas me olhavam no corredor... com medo, me cumprimentavam... sem me encarar. uma vez, bebendo água... sentei na mesinha e desenhei umas reticências na palma da mão... um carimbo sabe...coisa de criança. carimbei alguns ombros amigos, algumas mãos suadas, até uma nádega masculina, com o esmero necessário para tal operação... eu consegui... era uma calça branca... praticamente um outdoor humano. como caiu bem... ... muito bem ... depois, o copeiro foi reclamar com a minha gerência... dizia ele, que eu estava sujando todos os copos, e que o rapaz não aguentava mais limpar. uma mentira. não foram tantos... acredita??? brincadeira ... além do mais, eram de plástico... como?? me diz ... quem lava copos de plástico? só paronóicos alarmistas... e o gabeira ... o copeiro devia ser do greenpeace ... devia...
isso já tem quanto tempo? esse começo (...)
você usou reticências agora não foi ?? não foi ??? me diga ... não foi ??? senti no começo da frase que elas viriam. você é mais um desses... pagãos.
mas rapaz, que isso! que nervosismo. essa veia saltada na testa...
olha ..... OLHAAAAAAAAAAAAAA .... outra vez... não posso permitir... é melhor que pare aqui. agora.
tá. só ouço. diga logo, homem.
e foi assim ... piorando... não demorou pra que eu começasse a falar desse modo... você nota isso, não ? muitas respirações intercalam minhas frases... quase uma bronquite asmática.
sim.
no começo me fazia bem... adquiri um ar taciturno ... misterioso... até andava de capote... na rua que eu moro, me apelidaram... homem-reticente... tinha um colega que já tinha ganho uma alcunha dessas pessoas... bruno, o fático. era um rapaz com seus vinte anos, que nas suas conversas, só mantinha o canal. não tinha assunto. era um amontoado de "e ae" ,"fala", "então", "belezinha?", "tudo em riba?" e nunca saia disso. nunca... começava: fala ... fala ... e ae ??? e dae vinha, com seu combo q não ia a lugar algum. quando enfim, você se irritava e implorava pra que ele fosse direto ao assunto ou ao inferno, ele retrucava dizendo:" porra, quero falar uma parada séria e tu fica assim. deixa". às vezes é melhor...
irritante. eu juro q não usei reticências.
ok. senti. mas quase foi. desnecessária até.
continue. já está quase dando a minha hora.
bem... depois... como a própria pontuação... comecei a me sentir incompleto. sempre dou a entender. deixo a deixa, mas não entendo o que quero dizer. os pensamentos começaram a ficar... preguiçosos. às vezes, na verdade, na maioria das vezes, as reticências mentais, faladas e escritas, não são nem cabíveis. seria adequado um ponto de exclamação, uma interrogação, uma virgula, travessão ... talvez ... mas não ... as malditas vem. ae imagina. você está super alegre. encontra sua super-ultra-amiga de anos, que aliás, foi tórrido caso de amor seu, que voltou da bulgária, depois de encarar uma tuberculose lá e passar mal bocados, ao viver durante um mês, num celeiro. abraça a coitada, aperta com força e diz o seu nome: roberta ... ROBERTA... ??? seria uma exclamação. no mínimo. o correto seria, cinco ou seis exclamações. grandes amigos assim, não usam reticências pra expressar alegria extrema, saudade de anos. no mínimo, uma exclamação. mas não...
luciana chegou. oi amor!
já ? tem q ir ...
tenho. com certeza. vamos andando?
mas não acabei de falar.
deixa assim, reticente...
sou reticente... falo ... e logo... deixo no ar...
mas, quem é você ?
uma pessoa.. que quer ... desabafar ... só isso.
pois fale, mas seja breve. aguardo uma pessoa. já está por vir. luciana é seu nome.
meu nome? vai ... me chamar assim? (...) não ... meu nome não é "..."
não. o dela. da pessoa. que espero.
pois bem,.começou nesses bate-papos. internet. no trabalho, à tarde, sem ter o q fazer ... conheci as reticências e seu ... poder. me apeguei de imediato. me apeguei até mais a elas do que às pessoas ... q conheci. no primeiro mês, desenhava em folhas com impressões erradas, no verso ... era um ... passatempo... aqueles três ... pontinhos. mas ainda eram frases longas.
ahn?
as pessoas começaram a desconfiar...estava deixando muitos indícios da minha mania ... meu vício cresceu, enfim ... continuava no bate-papo, e se prolongou na vida real. em qualquer lugar que eu via um espaço em branco tascava logo uma reticência... virou ... minha ... assinatura. pessoas me olhavam no corredor... com medo, me cumprimentavam... sem me encarar. uma vez, bebendo água... sentei na mesinha e desenhei umas reticências na palma da mão... um carimbo sabe...coisa de criança. carimbei alguns ombros amigos, algumas mãos suadas, até uma nádega masculina, com o esmero necessário para tal operação... eu consegui... era uma calça branca... praticamente um outdoor humano. como caiu bem... ... muito bem ... depois, o copeiro foi reclamar com a minha gerência... dizia ele, que eu estava sujando todos os copos, e que o rapaz não aguentava mais limpar. uma mentira. não foram tantos... acredita??? brincadeira ... além do mais, eram de plástico... como?? me diz ... quem lava copos de plástico? só paronóicos alarmistas... e o gabeira ... o copeiro devia ser do greenpeace ... devia...
isso já tem quanto tempo? esse começo (...)
você usou reticências agora não foi ?? não foi ??? me diga ... não foi ??? senti no começo da frase que elas viriam. você é mais um desses... pagãos.
mas rapaz, que isso! que nervosismo. essa veia saltada na testa...
olha ..... OLHAAAAAAAAAAAAAA .... outra vez... não posso permitir... é melhor que pare aqui. agora.
tá. só ouço. diga logo, homem.
e foi assim ... piorando... não demorou pra que eu começasse a falar desse modo... você nota isso, não ? muitas respirações intercalam minhas frases... quase uma bronquite asmática.
sim.
no começo me fazia bem... adquiri um ar taciturno ... misterioso... até andava de capote... na rua que eu moro, me apelidaram... homem-reticente... tinha um colega que já tinha ganho uma alcunha dessas pessoas... bruno, o fático. era um rapaz com seus vinte anos, que nas suas conversas, só mantinha o canal. não tinha assunto. era um amontoado de "e ae" ,"fala", "então", "belezinha?", "tudo em riba?" e nunca saia disso. nunca... começava: fala ... fala ... e ae ??? e dae vinha, com seu combo q não ia a lugar algum. quando enfim, você se irritava e implorava pra que ele fosse direto ao assunto ou ao inferno, ele retrucava dizendo:" porra, quero falar uma parada séria e tu fica assim. deixa". às vezes é melhor...
irritante. eu juro q não usei reticências.
ok. senti. mas quase foi. desnecessária até.
continue. já está quase dando a minha hora.
bem... depois... como a própria pontuação... comecei a me sentir incompleto. sempre dou a entender. deixo a deixa, mas não entendo o que quero dizer. os pensamentos começaram a ficar... preguiçosos. às vezes, na verdade, na maioria das vezes, as reticências mentais, faladas e escritas, não são nem cabíveis. seria adequado um ponto de exclamação, uma interrogação, uma virgula, travessão ... talvez ... mas não ... as malditas vem. ae imagina. você está super alegre. encontra sua super-ultra-amiga de anos, que aliás, foi tórrido caso de amor seu, que voltou da bulgária, depois de encarar uma tuberculose lá e passar mal bocados, ao viver durante um mês, num celeiro. abraça a coitada, aperta com força e diz o seu nome: roberta ... ROBERTA... ??? seria uma exclamação. no mínimo. o correto seria, cinco ou seis exclamações. grandes amigos assim, não usam reticências pra expressar alegria extrema, saudade de anos. no mínimo, uma exclamação. mas não...
luciana chegou. oi amor!
já ? tem q ir ...
tenho. com certeza. vamos andando?
mas não acabei de falar.
deixa assim, reticente...
7 comentários:
Fabricio...
Dissestes bem... Reticências podem denotar preguiça... medo... rispidez... Mas podem também... ser aquela coceirinha que não nos deixa acreditar num ponto final
P.s: Como diz uma amiga querida, "vida que segue" rs...
A reticência é o coração de toda boa saga.
Me lembrou uam discussão que tive no colégio com uma pessoa que acreditava que as reticências queriam dizer "fim absoluto", já que ela simbolizaria três pontos finais(sic)
Nossa, tem gente que FALA com reticências...a gente fica vendo os pontinhos entre cada suspiro, cada fungada...que aflição!
Muito bom...muito bom o texto...bom mesmo...
O mundo moderno é deveras reticente. E isso o torna deveras irritante...
você escreve muito bem.
textos sempre misteriosos, subjetivos, que prendem a atenção da gente.
boa companhia por aqui...
Vi no seu fotolog o link para este blog. E curiosa que sou, vim aqui ver o que você anda escrevendo. Desde novinho, você sempre escreveu muito bem. Tem muitos defeitos, mas saber escrever acredito que seja uma qualidade admirável (e até certo ponto invejável!) em ti. Não precisei nem procurar o seu texto olhando o nome dos autores. Quando vi um monte de reticências... já sabia que era o seu!
Gostei muito, Bito!!!
Beijinhos
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