Las mujeres de Coutinho

Jogo de Cena
2007
Direção: Eduardo Coutinho

Após os créditos iniciais, um plano anuncia todo o enredo do documentário de Coutinho. Se você é mulher e tem histórias pra contar, entre em contato. De 83 mulheres, 23 histórias escolhidas, e todas com pontos em comum como casamento, gravidez e sonhos reveladores. Li uma crítica que perguntava "Porque só mulheres?", simples: Qual outro ser teria todos esses pontos em comum, e que entregassem à câmera-Coutinho seus segredos, lágrimas, confissões, colocadas como platéia (até as atrizes, mas chegaremos nesse ponto) e encaradas como um mistério, uma ilusão, um jogo de cena.

Coutinho coloca atrizes e mulheres desconhecidas numa mesma posição e enquadramento. Algumas você reconhece e sabe que é uma interpretação de texto, outras são surpresas, reveladas no fim do depoimento ou em repetições das mesmas palavras, porém, sob emoções que você reconhece não tão reais, como um estudo do processo de atuação. As partes em que as atrizes falam dos seus processos é de longe o melhor do filme. Ali você se entrega à veracidade da ação, e percebe que elas, como mulheres, tentam entender as dores das mulheres retratadas, e quando Fernanda Torres pára sua interpretação para pensar em quão louco é falar o que já foi dito (revelado, como num divã), e revelando a fragilidade do que é real, do que não dá para repetir sem inserir defesas da atuação.

Para mim, "Jogo de Cena" é mais do que um documentário sobre as mulheres, seus sentimentos e pontos em comum, é sobre como pessoas públicas e comuns podem ter os mesmos dramas, que só palavras soltas na boca de um ator podem confundi-lo, mas a realidade ainda é maior, visto nos depoimentos de grandes atrizes, como Marilia Pera (revelando que chora em cena com cristais), Andrea Beltrão (fã do cheiro de alfazema da empregada) e Fernanda Torres. Mulheres de verdade, e Coutinho merece aplausos.