Ok, tentei evitar tocar em assuntos relacionados ao filme, até porque muitos não agüentam mais ouvir falar sobre ele. Mas é fato que Tropa faz parte das nossas rodas na hora do almoço, no trabalho, em casa etc.
É fato também que todos os dias você abre os jornais, liga a TV ou clica em qualquer site e, com toda certeza, vai passar os olhos em qualquer linha falando a respeito do longa de José Padilha. Tem sido ótima fonte tapa-buracos da imprensa comercial. Até o Jornal o Dia de ontem, sem sentido algum, para falar das bebedeiras de Kiefer Sutherland trouxe na capa de seu “Caderno D” uma montagem (muito mal feita, diga-se de passagem) de Jack Bauer ao lado do herói do momento: o Capitão Nascimento.
Voltando ao filme, para a classe pensante e formadora de opinião que já o assistiu, é indiscutível a reflexão que Tropa de Elite traz. Ele alfineta a mim, a você, a classe média-alta, as ONGs, ao tráfico, as polícias e desce seco na garganta, porque não é todo dia que você fica cara a cara com uma realidade que só está longe de você porque suas paredes brancas de concreto te protegem.
Um outro ponto curioso que o filme traz é a proliferação do heroísmo criado em torno do Capitão Nascimento, personagem do excelente Wagner Moura. Vai, não negue. Você também torce a favor do Bope e contra todos aqueles que “entram no saco”. E, você que viu, vai dizer que não reproduz os diálogos? Duvido que não.
Muitos têm discutido se essa aura formada em torno do Capitão Nascimento é boa ou ruim. Só respondo com uma única frase: Capitão Nascimento só nos representa, de alguma forma, porque somos um povo, no geral, completamente carente de heróis.
Gente, há tempos o Oscar deixou de ser um prêmio 100% respeitável. E há quem arrisque dizer que também deixou de ser 100% confiável. O que é difícil de entender é a insatisfação, comoção e tristeza da imprensa e da sociedade com a indicação de O ano em que meus pais saíram de férias.
Pra se ter uma idéia da indignação, a “perda” de Tropa para O ano... foi motivo de CAPA para o jornal O Globo de hoje.
Peço perdão por estar falando da produção de Cao Hamburger não munida de argumentos, pois não vi o filme. Mas vontade não me faltou. Parece um belo filme, e histórias passadas durante o regime militar, sabe Deus por quê, sempre despertam curiosidade na maioria dos estudantes de jornalismo. E não me excluo.
Não creio também que Cao Hamburger vá sair da 79° premiação do Oscar carregando sua estatueta. A fita só está concorrendo porque algum filme precisava preencher a vaga de melhor longa estrangeiro.
Não estou desmerecendo o filme, até porque, repito, não o vi. Pelo contrário, palmas ao nosso cinema que há anos não produzia tanto.
Voltando à “Tropa de Elite” é estranho constatar que o nosso cinema, principalmente o carioca, tem lançado, em grande escala, produções que retratam a realidade triste das favelas. Ok, é fato: a pobreza vende e enriquece. Os ricos, claro. Foi assim com “Cidade de Deus”, “Ônibus 174”, “Cidade dos Homens” e agora com “Tropa de Elite’ que, aliás, está com lançamento marcado nos Estados Unidos para 25 de janeiro de 2008.
Não podemos fechar os olhos e nos fingir de cegos diante da nossa própria imagem tão maltratada e tão explorada pelo cinema atual, mas que tal se “O ano...” vencesse o Oscar 2008? Muitos provavelmente reprovariam mais uma vez. Afinal, é bem mais lucrativo vender uma tela estampada com o nosso Brasil ruim para quem está lá fora, livre das grades nas quais estaremos todos presos pra sempre.
*foto da foto da revista Megazine by Cynthia Martins
8 comentários:
"Olha lá mãe, ela usa o trema..."
Apesar de ter visto PIRATA e ter gostado do filme que é a nova moda primavera-verão, fiquei surpreso com a exaltação feita em cima de um exército (porque quem mata e tem tanque de guerra -caveirão- é o exército, já que a polícia é feita pra prender) que tortura psicologicamente e fisicamente para cumprir seus objetivos.
Sobre o Cao Hamburguer: se ele fez o Castelo Ra-tim-Bum, ele pode fazer qualquer coisa...
*post-sucesso.
Pode até ser que ele ganhe. Contudo o filme é tremendamente inferior a "Tropa de Eilite". "O Ano..." além de ser um filme chato, é um filme como tantos outros filmes feitos no passado aqui no Brasil: Um filme batido, arrastado e com um temática piegas. Além de uma apresentação ágil e moderna, "Tropa" é bem feito e bem produzido. "Faca na Caveira!" (rs)
Eu ODIEI esse filme.
Portanto não acho digno de oscar.
Eu assisti ao "Tropa de Elite" recentemente. É fato que todos nos enxergamos um pouco na fita.
O pior de tudo é um conjunto de sentimentos que o filme produz. Todos eles, extremamente ruins:
- Incapacidade. Porque ninguém pode mudar um sistema comido pela corrupção (Não se restringindo à polícia, mas em redes que se encontram nos mais diferentes âmbitos sociais);
- Raiva. É desumano, mas só podemos sentir isso mesmo, ou cairemos na questão acima;
- Vontade de ser igual ao Capitão Nascimento, como se acabar com quem é pobre resolvesse o problema. Assim pensa a classe média, incapaz de se enxergar no lugar das pessoas "do saco". Refletindo um pouco mais, volta-se ao segundo item aqui exposto, e depois ao primeiro;
- Um pouco responsável pela situação atual. "Quem consome droga é cumplice do tráfico". Um discurso moderninho, apoiado m experiências de países com zero analfabetismo, e renda per capita em torno de R$ 3 000,00 , é sempre a desculpa para se tirar o corpo fora da situação. Numa nova reflexão, novamente cada aspecto aqui abordado pode ser o sentimento que se abate ordenadamente;
E por aí vai. Aos que se dizem "não usuários", eu espero que reconheçam a sua cumplicidade ao se depararem com aqueles "amigos" aos quais "devemos respeitar a preferência". Quando este "amigo" levar dura da PM, e dela for extorquido, eu espero que a primeira pedra não seja atirada nos soldados.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=807
Uma das melhores críticas que já vi sobre o filme. Compartilho acá.
Muito bom o texto, Cy!
Também não assisti ao "O ano". O Tropa de Elite é muito bom, porém concordando com seu último parágrafo, é um filme para se gerar reflexões, e não fazer a imagem do Bope- herói. Nós, brasileiros, criamos centenas de heróis falsos. Quem acha que Nascimento é um herói [como grande parte das pessoas] não entendeu o que o filme quis passar. Mas, tirando isso, podemos dizer que nosso cinema está no patamar do estrangeiro.
Parabéns pelo post, girl!
òtimo texto Cintia,
Só queria frisar que o filme tb já foi assistido por todo mundo aqui em sampa. A gente anda na rua ouvindo a mulecada cantar "homem de preto qual é sua missão...".
Ouso dizer que a indicação pro Oscar só foi retirada pq mais uma vez nosso país desejou passar um pano e ignorar aquilo que está acontecendo há tempos. Que todo mundo consome pirataria, que os camelôs do país são super atualizados, mesmo que os filmes venham com as risadas do cinema, todo mundo já sabe, mas como esse especificamente caiu nas graças da mídia, o governo tenta fingir que não aconteceu, como esse mega lançamento que está promovendo agora ou o caso da professora que sofreu retaliaçaõ porque reuniu os alunos pra assistir ao piratão.
coisas de Brasil, eu particularmente gostei muito desse e acho que a atuação do Wagner Moura fez o papel do Capitão se tornar mais carismático, porque a história em si só vai chocar nossa elite que vive no mundo de Oz e nunca se toca o que acontece realmente no país.
O que eu realmente gostei foi quando se joga na cara da playboyzada que são eles quem financiam o crime, falava isso pros colegas da facul há uns 5 anos atrás.
Bjão e continue escrevendo
Belo texto Cynthia!
Só gostaria de ressaltar mais uma vez a questão de colocar a classe média como cumplice, considero esse o maior mérito do filme. Sou estudante de jornalismo e tenho amigos usuários de maconha. Lamento concordadr com fellipe na medida em que sinto na pele a "raiva" e a "incapacidade". Sou contra a maconha e todos que me conhecem sabem disso, mas ela é droga, vício. Para quem conhece os efeitos e a consequência social do "beque" e ainda assim é consumidor, não há muito que outros possam fazer. Resta-nos a indignação de conviver com universitários de deiálogo hipócrita e que não pensam em nada a não ser no próprio umbigo. Aliás, nem isso, porque a maconha é uma das causas da tão criticada violência.
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