Goya e a Nóia

Gosto de arte. Não tenho cullones para dizer que conheço arte, mas eu gosto, sobretudo quando se trata da "fase obscura" de um certo espanhol chamado Francisco José de Goya y Lucientes, autor da famosa obra Os Fuzilamentos de 3 de Maio. Então lá estava eu, na livraria, folheando uma biografia de Goya escrita pelo crítico de arte Robert Hughes. Me interessei e resolvi checar se o orçamento daria vazão para a compra, mas, como saber se eu não achava a máquina que diz os preços quando se passa o código de barras do livro? Procurei, procurei e nada. O dono do estabelecimento, vendo o meu afoitamento em querer saber o preço, me deu o Abre-te Sésamo:

- Meu filho. Abra o livro.

Vagarosamente, pratiquei o significado daquelas palavras cabalísticas e voilá! Lá estava a etiqueta com o preço do tal. Uma etiqueta discreta, em tom bege, mas estava ali, escancarada na minha cara. Era tão simples, era só abrir o livro. Vergonha. Então me lembrei daquela vez em que estiquei as mãos na pia do banheiro da faculdade para esperar a água cair por si só, como nos shoppings. Demorei uns segundos para me tocar da cena ridícula que estava fazendo e executei o estafante trabalho de virar a torneira, e a água saiu, como sempre. Também me lembrei que, no fim do ano passado, meu celular havia sido roubado (sorria, você está no Rio!). Senti como se tivessem me amputado a parte do corpo responsável por armazenar os números de telefone que meus neurônios tem dificuldade ou preguiça. Agora se passaram quase 8 meses que estou sem celular e percebi que, durante este período, meu coração ainda não parou. Ainda...

"Tudo o que contém o princípio ativo 'elétron' se torna um entorpecente poderoso e altamente viciante" Frederico Latrão

Sempre fui fascinado por tecnologia, mas a minha alma geek foi sacramentada no momento em que meu pai comprou o nosso primeiro pc: um IBM PS2, processador 486 com 4 megabytes de memória Ram. Top de linha na época. Não contente, ele ainda assinou a antológica PC Magazine: uma das cartilhas dos geeks da época. Assim, com 10 anos, me familiarizei com nomes como DOS, Pascal, C++, Html, Cobol, Java e, é claro, "erro interno do servidor". Agora, esta nossa ultradependência dos computadores, exaltada de Isaac Asimov à Jean Baudrillard, me fascina e assusta. Quer ver? Passe a contar quantos aparelhos eletrônicos você se utiliza desde o momento que você acorda (inclusive aquele que te ajuda a acordar), quantas senhas de banco e internet etc você lida por dia e toda ação que envolver eletricidade. Daí me vem a paranóia cyberpunk: o que seria do mundo caso a eletricidade acabasse para todo o sempre ou as máquinas resolvessem que estava na hora de abolir a sua própria escravatura? Aliás, quem é realmente a máquina e o escravo desta relação?

E o que Goya nos diria sobre esta situação de hoje? Creio que já sei:

......................... .Saturno devorando o próprio filho


Medo!